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A política do “agora é que é”

Há quem tenha muita confiança em maiorias absolutas, mas a história já provou ser um erro.

A Assembleia Municipal de Lisboa discutiu na terça-feira 27 de junho, a última informação escrita do Presidente da Câmara antes do final do mandato. Não por acaso, no dia anterior (26 de junho), Fernando Medina passou a ser oficialmente candidato nas eleições de 1 de outubro; desta forma, Medina vestiu o duplo fato de presidente em funções e candidato, pelo que a informação escrita passou rapidamente de balanço para um discurso de mais de trinta minutos de pré-campanha.

O maior perigo deste tipo de manobras é político! Como bem foi dito pelo Ricardo Robles, este é o discurso do “agora é que é”. Depois de 10 anos de mandato de maiorias absolutas do PS, a sensivelmente 3 meses do fim do mandato é que Medina inaugura todas as obras, bem como lança projetos que só terão resultados a meio de um próximo mandato.

Há, realmente, quem tenha muita confiança em maiorias absolutas, mas a história já provou ser um erro.

Há dois eixos essenciais que o balanço de Medina refere, mas onde fica claro que não tiveram resolução, nem tão pouco avanços significativos.

Ao nível da habitação, a Câmara Municipal de Lisboa continua com uma situação catastrófica, que deixa milhares de pessoas sem resposta. Um regulamento de habitação municipal que precisa de revisão urgente, um número de fogos habitacionais que não chega para corresponder à procura, falta de ação política para travar as consequências da lei dos despejos e da pressão do turismo e consequente especulação imobiliária.

Ao longo de todo o mandato os problemas foram sendo empurrados com a barriga para apresentar, há poucas semanas, um programa de renda acessível que mais não é do que uma verdadeira parceria público-privada (PPP). Ou seja, a resposta de Medina é uma PPP que retira capacidade de resposta municipal, garante lucros aos privados e não responde cabalmente à especulação imobiliária nem às pessoas sem habitação ou a serem despejadas.

Em termos de transportes, o caos mantém-se. Se é verdade que a transição da Carris para o município foi importante, é de sublinhar que isto só ocorreu por pressão política do Bloco de Esquerda; ainda nos lembramos quando o PS não estava de acordo com a posição que hoje defende.

Mas desde aí que muito pouco foi feito: ainda se esperam condutores prometidos, ainda não foi efetivado o investimento necessário e tudo fica relegado para o próximo mandato. Já sobre o Metro, quando Medina diz que não pode fazer nada sobre o assunto está a tentar tapar o sol com a peneira. Medina aceitou sem pestanejar a opção de fechar a linha verde do Metro. Não considerou o debate público nem a opinião da esmagadora maioria dos técnicos e relegou, novamente, as populações da zona ocidental da cidade ao abandono.

Além do mais, a pressão política necessária sobre o governo para que exista investimento real no Metro é praticamente inexistente, o que denota que Medina pouco quer mexer nesta matéria. Quem perde, são os lisboetas e todos e todas que utilizam este meio de transporte todos os dias.

Medina é o presidente/candidato que, todos se lembram, disse em Assembleia Municipal que “não sabia o que era turismo a mais”. Mostrou uma insensibilidade face às pressões que o crescimento desenfreado do turismo em Lisboa tem tido sobre os serviços públicos e sobre o usufruto que os lisboetas podem, ou não, fazer da sua cidade. Sendo uma atividade económica importante, não pode ser ignorado que tem consequências gravosas e tem que ter políticas municipais que combatam essas consequências.

Isso não existiu até hoje, e o seu balanço/discurso pré-eleitoral faz entender que se irá manter assim!

Este é o perigo dos balanços que também são campanhas eleitorais: facilmente se percebe o que não vai ser feito e que o que proposto não tem grande validade no tempo. Os lisboetas sabem com o que podem contar, e no caso de Medina candidato é o mesmo de Medina presidente: garantia aos privados de se manterem a reger a cidade, pouca atenção às pessoas e seus problemas e nenhuma proposta de longo prazo para a cidade digna desse nome. É apenas a perpetuação de mais do mesmo, muito aquém do “agora é que é”!

Sobre o/a autor(a)

Dirigente do Bloco de Esquerda. Licenciada em Ciências Políticas e Relações Internacionais e mestranda em Ciências Políticas
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