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Então, e o HUB?

Podia o grande HUB, no Atlântico, para o transporte marítimo de mercadorias ser no porto da Praia da Vitória? Poder, podia, mas não seria o mesmo que em Sines.

E por uma simples razão, nunca assumida por Sérgio Ávila na última campanha eleitoral, e raramente assumida pelos sucessivos governos da República, incluindo o atual, porque se fosse na Praia da Vitória, perder-se-ia a oportunidade de garantir um aumento da presença e atividade militar norte-americana, afinal tão necessária para Portugal continuar a pertencer ao clube da NATO.

A opção política de fundo que faz com que a escolha recaia sobre Sines, nunca foi assumida por Sérgio Ávila, mesmo quando foi confrontado com uma resposta do Governo da República que prioriza a utilização militar do porto da Praia da Vitória sobre uma eventual maior dinamização da utilização civil e comercial, pese embora a localização diametralmente oposta do porto militar relativamente ao atual porto comercial. Sérgio Ávila negou esse cenário, querendo fazer crer que o movimento gerado por uma infraestrutura com a envergadura do futuro HUB de referência internacional, no Atlântico, não interferiria na área marítima do atual porto militar.

O Ministro dos Negócios Estrangeiros confirmou, na Terceira, que o melhor é ter mesmo essa referência em Sines, dando mesmo a impressão que nunca se colocou outra hipótese que não essa, como se o porto da Praia da Vitória nunca tivesse sido uma “carta no baralho” do jogo comercial do Atlântico.

O HUB logístico internacional para o transporte marítimo de mercadorias não será no porto da Praia da Vitória, outrora anunciado, por Sérgio Ávila, como objeto de megafinanciamento, ao abrigo do plano Junker. Resta-nos perguntar sobre onde está tal candidatura, tão referida durante a última campanha eleitoral? O projeto do HUB logístico internacional, que integra o PREIT, acaba de ser negado, a responsabilidade pela descontaminação dos aquíferos prepara-se para ser descartada aos norte-americanos, e recentemente o Ministro do Ambiente colocou em causa a responsabilidade também do Governo da República.

Enfim, parece-me que o PREIT está a ser descascado pelo Governo da República. A política de eterna subserviência aos desígnios dos interesses militares norte americanos ou da NATO tem outros planos para o porto da Praia da Vitória. Ao que tudo indica far-se-á por provocar o apetite dos norte-americanos para instalar uma base naval militar e, dessa forma, inviabilizar, de uma vez por todas, qualquer projeto comercial e civil com efeitos positivos para a economia da ilha e da Região. Por essa altura, certamente se tentará convencer a opinião pública de que essa terá sido a melhor escolha.

Os açorianos/as, e os/as terceirenses, em particular, terão de começar a fazer escolhas conscientes sobre o futuro que pretendem para a sua terra. Se o mais importante é garantir a sustentabilidade ambiental e a saúde pública da ilha ou pagarmos uma quota elevadíssima para continuarmos a pertencer à NATO, segundo as novas exigências de Trump? Ou se o mais importante é fazer render o nosso potencial estratégico, conforme o que desejamos, ou conforme os desejos de Washington?

Sobre o/a autor(a)

Deputado à Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores. Membro do Bloco de Esquerda Açores. Licenciado em Psicologia Social e das Organizações
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