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Mas que grande "leilão"

A ser verdade que ‘não há fome que não dê em fartura’, convém prestar muita atenção à possibilidade da alegada ‘fartura’ se desfazer no Mar, se derreter no Clima ou se esfumar no Ar, que é como quem diz… no Air Center!

E é bem possível que tudo isto, infelizmente, venha a acontecer, fruto da comprovada ausência de uma estratégia clara e assertiva para a potencialização das nossas mais-valias naturais: o imenso mar e a privilegiada localização geográfica.

Vale a pena fazermos uma abreviada história dos trambolhões, das ilusões e até das alucinações (para não lhe chamar ‘mentira’, pura e dura) presentes, no processo de instalação de um centro internacional de investigação, na nossa Região:

- em novembro de 2015, no Orçamento da Região para 2016, sob a epígrafe “Centro Público Internacional das Ciências do Mar”, constava o seguinte: “Fica o Governo Regional mandatado para negociar com o Governo da República, no âmbito dos Projectos de Interesse Comum, nos termos estatutários, o processo para implementação, na Região Autónoma dos Açores, do Centro Público Internacional das Ciências do Mar”;

- em abril de 2016, deslocou-se à ilha do Faial uma ilustre comitiva, da qual fazia parte o actual Primeiro-Ministro, sete Ministros e uma Secretária de Estado. Objectivo? Assumir o compromisso de iniciar os trabalhos necessários para a implementação, na Ilha, de um Centro de Observação Oceânico (anteriormente designado e aprovado como “Centro Público Internacional das Ciências do Mar”), muito em breve;

- em setembro de 2016, foi aprovada, no nosso Parlamento, uma Resolução que recomendava ao Governo Regional que fomentasse a participação e procedesse à auscultação das Instituições e Entidades Científicas Regionais (nomeadamente, o Departamento de Oceanografia e Pescas e o Departamento de Biologia da Universidade dos Açores), bem como os Centros de Investigação com atividades relativas ao mar, no sentido de operacionalizar a constituição do prometido Centro de Observação Oceânico (anteriormente designado e aprovado como “Centro Público Internacional das Ciências do Mar”);

- em março deste ano, no âmbito do debate e votação do Orçamento da Região para 2017, questionámos o Governo Regional sobre o ponto de situação da implementação deste tão badalado Centro, até porque o documento em causa mantinha o articulado do Orçamento anterior. A resposta chegou após prolongada insistência na pergunta e bem percebemos porquê! É que, quase dois anos depois do compromisso assumido pelo Governo Regional e quase um ano depois do compromisso assumido pelo Governo da República…um e outro ainda estavam a “reflectir”(?!) sobre a pertinência da implementação de um Centro Público Internacional das Ciências do Mar, no Faial;

- há poucos dias atrás, a ilha Terceira foi palco de uma aparatosa reunião, patrocinada pelo Governo da República, com vista à instalação, nos Açores, de um chamado “Air Center”, ou seja…um “Centro Internacional de Investigação” dos oceanos, do espaço e das alterações climáticas, o qual - de acordo com o público desejo do Presidente do Governo Regional – deveria ficar sedeado, na ilha Terceira;

- também há poucos dias atrás, o congressista David Nunes afirmou – sem que alguém lhe tivesse perguntado alguma coisa! – que será inaceitável qualquer presença de estrangeiros, junto da Base das Lajes…a qual, por acaso, fica na ilha Terceira.

Então, façam-me um favor: - procurem, neste imenso ‘leilão’, qualquer sinal de verdade, coerência, estratégia, política de investigação, compromisso sério ou tão só…respeito pela inteligência de todos/as nós!

Sobre o/a autor(a)

Dirigente do Bloco de Esquerda. Deputada à Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores, entre 2008 e 2018.
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