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Afinal, há causas para a abstenção!

Logo no primeiro Plano e Orçamento, o Partido Socialista negou a sua promessa eleitoral emblemática.

Regressemos ao Plano e Orçamento que, durante a semana passada, foi discutido e aprovado pela maioria do Partido Socialista, com o apoio do CDS.

O Partido Socialista fez questão de salientar que este era o primeiro Plano e Orçamento após as eleições de Outubro de 2016, que deram origem à actual composição da Assembleia Legislativa Regional dos Açores. Este facto, permitiria advinhar que as promessas eleitorais seriam respeitadas, mas, infelizmente, tal assim não aconteceu.

Todos nos lembramos de que o Partido Socialista fez pré-campanha, e campanha, assentes num pilar: a necessidade que os Açores tinham de dar um salto na área da Ciência.

Um dos fatores decisivos para atingir este objectivo seria a concretização do Centro Internacional das Ciências do Mar, no Faial.

O PS mobilizou o primeiro-ministro, sete ministros e uma secretária de estado para, no Faial, com pompa e circunstância, anunciar que tal projecto contaria com o empenho do Governo da República na sua concretização.

Pois bem, logo no primeiro Plano e Orçamento, o Partido Socialista negou a sua promessa emblemática.

Perante a ausência de qualquer menção objectiva à concretização deste projecto nos documentos em debate, e porque este projecto é vital para uma nova economia avançada para os Açores, o Bloco de Esquerda propôs que o Governo Regional ficaria obrigado a apresentar ao parlamento, no prazo de seis meses, um plano detalhado com a identificação dos recursos materiais, financeiros e humanos necessários à implementação do Centro Público Internacional das Ciências do Mar, respetivas valências, bem como da sua forma jurídica e formal.

Para minha surpresa, a resposta foi que, sobre esse assunto, o governo ainda estava a refletir.

Refletir? Agora? Mas há meses atrás não teve o despudor de apresentar aos açorianos uma proposta concreta, como se fosse real.

Hoje, sabe-se, de forma clara, que o Partido Socialista mentiu aos açorianos.

Mas perante o desplante do Partido Socialista, o PSD não quis ficar atrás. Por isso, apresentou, no âmbito do debate do Plano e Orçamento, a seguinte proposta: dotar o plano de 150 mil euros para estudar o projeto de ampliação da pista do aeroporto da Horta.

É de bradar aos céus.

Foi o PSD, juntamente com o CDS, que, quando estiveram no governo da república, venderam a empresa ANA, proprietária do aeroporto da Horta, à francesa Vinci. Além disso, ambos os partidos votaram contra uma proposta do Bloco de Esquerda que defendia a inclusão, no caderno de encargos, de uma cláusula que obrigasse a Vinci a ficar responsável por fazer esta ampliação.

Agora, o PSD apresenta uma proposta para que seja o Governo Regional a pagar o projeto? Vamos ser sérios.

Neste momento, o aeroporto da Horta é privado, a empresa que o comprou não ficou obrigada a nada sobre este aeroporto. Alterar este estado infeliz das coisas exige negociações entre o Governo Regional, o Governo da República e a empresa, antes de qualquer outro avanço do processo.

Propor um projeto para fazer obras em casa alheia, sem autorização do dono, não lembra a ninguém, não é sério! Manobra de perna curta só para enganar eleitores.

É verdade, poucos meses passaram das eleições e logo as promessas e os artifícios para fugir às responsabilidades estão no auge do despudor e da mentira.

O PS tem uma proposta para estudar as causas da elevada abstenção na Região. Penso que deveria carrear para o estudo estes exemplos, por forma a ajudar à Comissão que o vai desenvolver.

Sobre o/a autor(a)

Dirigente do Bloco de Esquerda. Deputada à Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores, entre 2008 e 2018.
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