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Dijsselbloem não tem condições para se manter presidente do Eurogrupo

Intervenções como a de Dijsselbloem demonstram bem o espírito com que as instituições europeias se regem: pelo preconceito e pela prepotência.

Quando se assinalam os 60 anos do Tratado de Roma, os chefes de Estado europeus reuniram-se para afirmar a divergência e o securitarismo como política oficial da União Europeia.

O presidente da Comissão Juncker apresentou um livro branco onde apresentou cinco cenários para o futuro da União. No entanto, todos são uma variação do mesmo: a confirmação de uma União europeia a diferentes velocidades, que troca a coesão por políticas securitárias e pelo militarismo.

Longe vai o tempo da propaganda do projeto europeu solidário, que pretendia uma convergência entre os povos, que se arrogava de guardião dos direitos humanos.

Longe vai esse tempo, mas também não nos surpreende que assim seja.

O tempo hoje (com maior expressão nos últimos anos) é o da divisão para reinar, é o tempo da austeridade sem fim e das instituições europeias como propulsoras dos países mais fortes em detrimento dos mais fracos.

Não existe qualquer plano de reforma da união monetária ou dos tratados europeus que seja capaz de responder às necessidades dos povos.

Questões como a reestruturação das dívidas públicas, o investimento público ou o controlo público de setores estratégicos são arredados para segundo plano e ai de quem ouse falar no assunto: é perseguido e ameaçado com sanções, que não passam de pura chantagem.

Intervenções como a de Dijsselbloem demonstram bem o espírito com que as instituições europeias se regem: pelo preconceito e pela prepotência. Também aqueles que o secundam, como Schäuble, são exemplo de como foram completamente abandonados pilares como a coesão ou a solidariedade.

Hoje, passados 60 anos, impera o preconceito, o fechamento, a austeridade toda poderosa.

A União Europeia festeja os 60 anos do Tratado de Roma com uma mancha indelével: a política de rejeição das convenções internacionais sobre direitos humanos, a política do erguer de muros, não apenas físicos, de políticas de perseguição a quem foge da guerra e da fome, criando autênticos campos de detenção nas suas fronteiras.

Enquanto faz isto, tapa os olhos e diz que não é seu problema, porque até fez um acordo com a Turquia.

A União Europeia festeja 60 anos do Tratado de Roma e, perante os problemas evidenciados, não aponta nenhuma alternativa, seja de luta contra a xenofobia e a extrema-direita, ou de vontade política de reestruturar dívidas e apostar no investimento público.

E querer estar na linha da frente de tal projeto não deve ser motivo de orgulho!

O Bloco de Esquerda rejeita este caminho.

Aliás, sempre o rejeitou e sempre propôs um projeto alternativo, pela construção de uma cooperação que sirva os interesses das populações, proteja a democracia e os direitos sociais, económicos e ambientais. Essa alternativa é precisa mais do que nunca e que melhor momento do que um aniversário para dar o pontapé de saída para uma europa dos povos e para os povos.

Intervenção na Assembleia da República sobre o voto de repúdio às declarações xenófobas, racistas e sexistas do presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem – 24 de março de 2017

Isabel Pires:" Dijsselbloem não tem condições para se manter presidente do Eurogrupo"

Sobre o/a autor(a)

Dirigente do Bloco de Esquerda. Licenciada em Ciências Políticas e Relações Internacionais e mestranda em Ciências Políticas
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