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Tiros nos pés!

A economia do mar é uma alavanca fundamental para o nosso futuro. Aplaudo o discurso que vai neste sentido, mas com práticas destas, não vamos lá...

A expressão “economia azul” entrou, há já alguns anos, no discurso político.

Levámos anos a ouvir notícias sobre congressos, conferências e exposições, sem que as ideias discutidas fossem concretizadas, não só no que diz respeito ao desenvolvimento da economia do mar já existente, mas também nas novas valências que se abriam a todo o momento.

Os Açores andaram muitos anos nesta letargia. Na Assembleia Legislativa dos Açores, o Bloco de Esquerda chegou mesmo a ser apelidado de lunático quando fez propostas concretas nesta área. Mas parece que os tempos e as práticas mudaram. Vamos ter esperança.

A economia do mar é um mundo de oportunidades que vão desde a pesca à atividade recreativa, mas que também passam pela mineração e a biotecnologia.

Neste processo económico, os portos surgem como infraestruturas base, cuja importância é reforçada pelo facto de sermos uma região arquipelágica.

E sobre esta matéria continuamos a dar tiros nos pés.

Como é sabido, Rabo de Peixe tem a maior comunidade piscatória da Região, cujo porto precisava de uma renovação, e em boa hora o Governo Regional decidiu avançar para a sua concretização.

O problema residiu, no entanto, nesta concretização. O Governo foi avisado de que o projeto inicial continha erros. Levantou-se um clamor sobre os erros do projeto, mas nada disso demoveu o governo. Contra tudo e contra todos, a obra foi executada de acordo com o projeto inicial. O resultado foi catastrófico: milhões e milhões de euros gastos a emendar o erro inicial, para Rabo de Peixe acabar por ficar com um porto que tem estrangulamentos inadmissíveis para a atividade económica.

No porto da Horta, vem acontecendo o mesmo. Muita gente que conhece este porto, e conhece bem o mar que o envolve, chamou à atenção dos erros do projeto inicial do novo cais de passageiros, mas o Governo não deu ouvidos.

O resultado? Mais um desastre.

Navios cruzeiro que era suposto acostarem ao porto não o podem fazer e, talvez ainda mais grave, o porto da Horta que era conhecido internacionalmente por ser um porto de abrigo para navegantes, transformou-se num inferno de insegurança e perigo para as embarcações.

Todo este problema surgiu depois das obras de construção do novo molhe do cais de passageiros, logo, a causa não pode ser outra senão o erro na conceção da referida obra.

O Governo quer agora – novamente sem falar com ninguém, nem mesmo com a Câmara da Horta ou com as associações que representam os utilizadores do porto – fazer obras de remedeio onde se vão gastar dezenas de milhões de euros para atamancar um problema que foi gerado pela incompetência do Governo, que insiste em fazer orelhas moucas aos avisos de quem conhece o mar.

Mais uma vez, o Governo Regional não é capaz de admitir o seu erro, e predispõe-se a gastar milhões a tentar resolver erros do passado, cometendo novos erros.

Infelizmente, a economia da ilha do Faial e as pessoas que nela vivem e trabalham é que são penalizadas.

A economia do mar é uma alavanca fundamental para o nosso futuro. Aplaudo o discurso que vai neste sentido, mas com práticas destas, não vamos lá...

Sobre o/a autor(a)

Dirigente do Bloco de Esquerda. Deputada à Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores, entre 2008 e 2018.
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