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E agora?

Donald Trump, as ondas de choque na Europa e no mundo.

A Europa está com medo, muito medo do novo Presidente dos EUA. Quer Trump, quer Putin, querem destruir a União Europeia, que de crise em crise, está à beira da implosão e é, por isso, presa fácil dos novos senhores do mundo.

Mas já lá vamos.

Já muito foi dito nestes mais de dois meses de ondas de choque provocadas pela eleição de Donald Trump para a Presidência dos Estados Unidos. Mesmo poucos dias antes da tomada de posse, a 20 de janeiro, centenas de milhares de norte-americanos, explodiram em raiva contra este ultra-conservador, xenófobo, misógino, que em coerência fez um discurso que em minha opinião, ficava ainda melhor se fosse dito em alemão… dos anos 1930!

Mas há uma grande disparidade de opiniões quanto às verdadeiras causas dos resultados das presidenciais de novembro último. E receio, incredulidade principalmente com as escolhas do Presidente-eleito para a sua equipa que irá trabalhar com ele na Casa Branca e na futura Administração. Em vez de ter ido buscar figuras moderadas do Partido Republicano, vai rodear-se de extremistas, alguns deles bem conhecidos e até odiados pelos média e por movimentos cívicos. Steve Bannon será o principal conselheiro de Trump. Este empresário é um supremacista branco, racista, antissemita assumido com alegadas ligações ao temível Ku Klux Klan. Supremo tribunal, CIA, FBI, postos-chave do Poder máximo, seguem a mesma orientação…

Como é que aqui chegámos? Será que os votantes em Trump são maioritariamente racistas, xenófobos, misóginos, antidemocráticos, têm desdém pelas pessoas com deficiência mental ou física, tal como o candidato que escolheram ou querem impor um modelo de cariz totalitário ou neofascizante nos EUA? Não me parece, nem é isso que consta nas respostas dadas nos inquéritos de opinião realizados antes e depois das eleições.

A América nestes oito anos de Obama saiu da crise que a atingiu em 2007 (e que se espalhou à Europa), com o desemprego a cair para metade (pouco mais de 4%), Obama conseguiu impor o seu programa de saúde, atribuindo seguros a cerca de 30 milhões de utentes pobres. A agenda de Obama não foi mais longe porque viu-se barrado por um Congresso de maioria republicana, que é onde são decididas as principais políticas do Governo.

Apesar deste balanço positivo porque é que Trump ganhou em Estados onde os democratas venciam quase sempre? Trump, um homem da televisão, soube ler muito bem o descontentamento popular e dirigiu todo o seu discurso ao “coração” dos desiludidos, com uma retórica nacionalista e culpando os políticos e os imigrantes pelas desgraças da América. Hillary Clinton até foi mais votada no sufrágio popular, direto e universal, com quase três milhões de boletins de avanço sobre Trump, mas a decisão é Federal, Estado a Estado, no Colégio Eleitoral. foi vista como a candidata do sistema. O aparelho do Partido Democrata, cometeu um erro ao não apostar em Bernie Sanders, segundo os analistas, mais capacitado para capitalizar o descontentamento dos excluídos, dos desempregados de longa duração e que perderam toda a fé no sistema, com um discurso em defesa do Estado Social. Todas as sondagens, nos últimos meses, indicavam que Sanders era mais forte para um duelo com Trump.

Europa: efeito borboleta

Nalguns países da União Europeia, o fenómeno populista tem vindo a ganhar terreno e há governos de extrema-direita na Hungria e Polónia.

Já foi dito que os partidos do chamado “arco do Poder”, como os socialistas e sociais-democratas europeus, traíram o seu eleitorado tradicional, ao governarem com receitas ditadas pelos mercados, neoliberais, com a justificação da crise das dividas soberanas. Terreno fértil para os partidos, movimentos, líderes, que se baseiam no populismo. Partem do princípio que a soberania moderna assenta no povo, na nação, nos cidadãos. A argumentação destes líderes é sempre na base de que a classe política, o chamado “sistema”, as elites económicas, culturais, políticas, “confiscaram” esse Poder popular, através do sistema político-partidário, da comunicação social, e que por isso eles- os líderes populistas-, é que falam em nome do verdadeiro povo.

É uma espécie de insurreição contra o sistema político. Um dos próximos grandes barómetros, serão as Presidenciais francesas, com Marine Le Pen numa mais que provável segunda volta e grande aliada de Donald Trump neste lado do Atlântico.

E há que não reescrever a História: foi na Europa que as democracias caíram em desgraça nos anos 1920-30 e triunfaram os nacionalismos, o nazi-fascismo, e não nos EUA; foi na Europa, nos anos 1990 e agora neste Século XXI, que se assiste a um avanço do populismo, nacionalismo, xenofobia, antes de Donald Trump.

Sobre o/a autor(a)

Jornalista, Ex-Editor Assuntos Internacionais da RTP Antena 1
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