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Não queremos uma STCP reduzida ao mínimo

A reversão da privatização da STCP foi uma luta muito importante, travada pelos trabalhadores da empresa, em conjunto com utentes e partidos políticos da esquerda. Ganhar essa luta criou uma grande expectativa. E apesar de alguns progressos (como a contratação de 160 motoristas e a melhoria significativa da taxa de cumprimento dos serviços), a essa expectativa têm-se seguido muitas preocupações com o futuro da empresa.
Comecemos por uma preocupação básica: a ausência de informação por parte das entidades que realizaram o processo de municipalização da STCP Após terem assinado um contrato entre as 6 câmaras, e depois de inúmeras reuniões onde estiveram presentes autarquias, Área Metropolitana do Porto e empresas privadas de transporte público, até à data, não há informação do que foi discutido e do que irá acontecer.
No entanto, é de domínio público o interesse dos privados que operam em alguns concelhos (Gondomar, Valongo, Gaia) em usurpar as principais linhas de entrada na cidade do Porto, não para melhorar as mesmas a pensar nos utentes, mas para lucrar com estas. O que está a ser feito para evitar que isso aconteça? Nada!
Este receio tem alguns fundamentos. A AMP, a entidade fiscalizadora dos transportes e as Câmaras, nada implementaram, nos últimos anos, para travar a invasão das empresas privadas de outros concelhos, diariamente, na cidade do Porto, as quais só realizam linhas com vantagem económicas, não realizando outras, nas quais não têm interesse económico. A ausência de fiscalização para impedir estas práticas leva a grandes perdas monetárias para o Estado, e consequentemente para a STCP. É nítido o interesse económico em detrimento da falta de mobilidade dos utentes. Deixa-nos muito apreensivos o silêncio da ANTROP, pois estes são uns dos maiores defensores dos transportes privados, o que estará por trás?!
São de lamentar ainda declarações de alguns autarcas que, em entrevistas públicas, defendem a entrega de linhas a operadores privados, sem ressalvarem a mobilidade dos utentes da região. O próprio presidente da Câmara do Porto defende a criação de três pólos rodoviários, nomeadamente: Estado do Dragão, Boavista e Hospital S. João, reduzindo a STCP à baixa do cidade.
Se isto viesse a acontecer seria, objetivamente, o fim da STCP tal como a conhecemos, uma empresa de referência do país e dos transportes do Porto, que seria assim desmantelada às peças, por autarcas que a deveriam defender, mas que, no entanto, pretendem entregar as linhas mais importantes aos operadores privados.
Na atual situação política, temos de explorar todas as potencialidades de ganhar direitos. Mas isso não se faz através de uma “paz social” feita de cumplicidade com as administrações, mas da mobilização dos trabalhadores e da sua luta.
Se, nos próximos anos, a STCP ficasse reduzida à cidade do Porto, só necessitaria de 300 motoristas, os restantes 600 sendo transferidos para os privados e outros convidados a saírem… Já estou a imaginar que até uma dessas empresas de transporte para turistas possa apoderar-se daquela que já foi uma das referências nacionais em termos de transportes públicos. Isto não é inevitável. Não tem de acontecer. Cabe-nos a nós garantir que não aconteça.
Sim Temos Consciência do Perigo
* Isaque Palmas, membro da Comissão de Trabalhadores da STCP
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