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Incineradora: incompetência ou interesses?
É conhecida a minha oposição, desde sempre, à construção de duas incineradoras, nos Açores.
Continuo a fazer uma pergunta simples: - Porquê construir duas incineradoras de tão grande dimensão (as quais, para funcionarem, exigirão o consumo da quase totalidade do lixo produzido, nas nossas ilhas) pondo, assim, em causa as metas de reciclagem?
E não me respondam – como tem sido o caso – que esta óbvia pergunta só pode resultar de uma lógica redutora, segundo a qual o ‘lixo’ não é um problema. Claro que é um problema e tem de ter solução, sabendo nós que o caminho (puro e duro) dos aterros está ultrapassado e que o futuro exige ‘redução’, ‘reciclagem’ e ‘reutilização’.
Certo é que, ao longo deste processo, mais pessoas e organizações se têm envolvido, na procura de uma solução alternativa.
Hoje, há duas propostas, em cima da mesa: ou incinerar 95% do nosso lixo, ou implementar o Tratamento Mecânico e Biológico para 60% dele, aterrando ou incinerando o que sobrar.
Sem dúvida que defendo a segunda hipótese, desde logo, porque é muito mais barata, cria mais postos de trabalho, é economicamente mais rentável e é ambientalmente mais sustentável, pois coloca a reciclagem e a reutilização como objectivo principal.
Então, insisto: - Porquê a incineração? Porque há estudos que a defendem, respondem-me. Há?! Então qual a razão do secretismo a que têm sido sujeitos? Porque não os colocam a público e os sujeitam ao contraditório, envolvendo técnicos habilitados e defensores das duas hipóteses? Porque não disponibilizam toda a informação existente, fomentando o debate e, por fim, deixando as pessoas decidirem? De que têm medo, afinal?
E, já agora, façam o favor de não nos tomarem por tolos/as e expliquem, devagarinho, a enorme trapalhada em que todo este processo mergulhou.
Em finais de Outubro, o presidente da Câmara da Ribeira Grande assumia que o projecto da incineradora tinha de ser repensado, pois existiam alternativas e o processo de decisão fora pouco transparente.
A 22 de Novembro, em reunião da AMISM, foi decidido que a incineradora de S. Miguel só iria para a frente se o Governo Regional garantisse a construção de uma central hídrica reversível.
No dia 23, o Presidente do Governo Regional admitiu a sua estranheza, por esta questão surgir agora, lembrando que já íamos no segundo concurso público para este projecto. Contudo, o actual governo assumia a posição do anterior governo, ou seja, ‘tudo pela incineração’.
No dia 24, Ricardo Rodrigues declara que o vencedor do concurso público, para a construção da incineradora, seria conhecido no início de Dezembro.
No mesmo dia, Alexandre Gaudêncio afirma que, afinal, a falta de transparência resultava da incerteza, na construção da central hídrica.
Hãããã??!!
Então, os tais estudos secretos não contemplavam a central hídrica, essencial para a sustentabilidade financeira do projecto?
Avançou-se para concursos públicos, sem a garantia de construção da hídrica?
O Governo Regional deu o seu acordo a este projecto, desconhecendo esta componente essencial?
A AMISM escondeu do Governo Regional esta componente?
A tal falta de transparência, apontada por Alexandre Gaudêncio, resultava da central hídrica, ou de outras questões mais opacas?!
É que se estamos a caminho de criar mais dois elefantes brancos, à custa do dinheiro de nós todos/as, é bom que percebamos se à pura incompetência não se juntarão interesses pouco recomendáveis!
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