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Serralves: A ascensão elitista
A coleção Miró exposta em Serralves tem um significado especial: os seus quadros resultam de um investimento feito pelo extinto BPN com a utilização fraudulenta do dinheiro de todos e todas. Por isso, seria o máximo escândalo que esse espólio fosse vendido a privados, espoliando uma segunda vez os Portugueses.
Serralves é o local aparentemente mais adequado para a fruição destas obras de arte. Mas o pendor cada vez mais elitista da Fundação extinguiu o domingo gratuito. Ora, quem quiser ver a exposição terá de pagar, no mínimo, 11 euros. Sei bem que a gratuitidade não chega para criar apetências pela arte. Mas ajuda. É por isso vergonhoso que não exista um único dia de acesso livre.
Deste modo, Serralves deixa de ser um espaço público. Já o tínhamos percebido quando o espaço é alugado para os casamentos opulentos da burguesia, que até têm como brinde o fecho de ruas. Mas inquieta perceber que nem o governo nem a câmara municipal tomaram medidas para alargar o acesso a todos e todas, incluindo as crianças em carro de bebe, igualmente proibidas de transpor a porta.
Não se trata, assim o penso, de um caso isolado, mas de um sintoma mais vasto de penetração insidiosa da lógica privada nos espaços públicos. Algo que é feito com particular hipocrisia: uma vez por ano, por dois dias, abrem-se as portas da fundação no “Serralves em Festa”. É como o Carnaval: no final desses dias, tudo volta ao seu lugar. Onze euros se queres ver as exposições e passear nos jardins.
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Serralves morreu. E serve
Serralves morreu. E serve agora para os actuais mecenas se pavonearem em recepções oficiais.
Realmente concordo com a
Realmente concordo com a opinião. É uma decisão errada e infeliz fechar as portas ao público ao domingo porque se está a fechar a porta à oportunidade de aceder e usufruir não só dos jardins românticos mas principalmente de um espaço cultural com oferta artística e educativo. E quem sofre diretamente com esta opção são claramente as pessoas que têm menos possibilidades financeiras.Tem que ser tomada outra decisão. Esta é incompreensível.Não digo cair no extremo de derrubar os muros. Não se trata de um caso tão grave como Berlin ou a migração em massa. Também não digo que o melhor seja oferecer casamentos gratuitos. Não sei as razões para esta decisão.Se eles têm receio de ver o espaço vandalizado ou descuidado que contratem mais seguranças . Eu até sugeria seguranças disfarçados de jardineiros. Não me surpreende que as reações a esta decisão sejam as mais criativas e inimagináveis . Espero as reações mais artísticas por parte dos que se consideram artistas.imagino uma futura ocupação das árvores de Serralves. Será uma ocupação civil corajosa, que eu não me aventuraria. Trepar árvores não é para todos. Esperemos é que este remédio não seja pior do que a "doença". Ninguém quer ramos partidos. Nem pernas
Muito oportuno este
Muito oportuno este comentário. Há um certo pudor em criticar a gentrificação destes lugares, como se eles fossem "por natureza" destinados a alguns. Neste caso, com o reforço de que conhecemos a natureza e origem financeira desta coleção, temos de exigir que permaneça como bem público e seja exposta em condições de efetiva fruição pela maioria. De nada vale chorar "a falta de comparência popular" nestes acontecimentos quando eles são realmente talhados, logo de início e logo nas regras de acesso, para uma fruição homogénea de certos grupos sociais, por muito altos que possam vir a ser os nºs da bilheteira. visitei e sei que há muita gente a entrar. o desejável é a diversidade social nesses entrantes. mais, é desejável e é obrigação de política cultural.
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