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Quem foram mesmo os cinco malandros?
Se Tchizé, filha de José Eduardo dos Santos e recém eleita para o comité central do partido do seu pai, demonstra, com o patrocínio de uma das suas empresas, o Tea Club, o carinho filial, isso não é devoção e prova da unidade da família?
Se um banco do Estado, Mira Sambila, mais o Grupo Zuga, a GBM, Marflor e algumas empresas mais se associam à filha para pedir a continuidade do chefe, não é isso prova da diversidade da democracia?
Se o partido coloca um cartaz com os resultados da sua eleição partidária, não sendo um partido único e havendo outros, não é isso uma forma humilde de enaltecer a virtude da convergência depois de trabalhosa e fraterna consulta de opiniões?
Se o cartaz, com base nos resultados de uma eleição interna a um partido, conclui que estes números apelam a que José Eduardo dos Santos “continue a conduzir os destinos do país” porque “o povo pede”, não é isso sinceridade?
O único problema, a única dificuldade, a única arrelia é mesmo saber quem foram os cinco malandros que estragaram a unanimidade e retiraram aqueles vergonhosos 0,4% aos retumbantes 100% que o Presidente merecia.
Artigo publicado em blogues.publico.pt a 9 de setembro de 2016
Comments
Um Partido Estado chamado
Um Partido Estado chamado MPLA
Exmos. Senhores
O artigo de opinião de Francisco Louçã em referência, “Quem foram mesmo os cinco malandros?”, merece o meu aplauso pelo seguinte:
por concordar com tudo o que diz ou insinua com fina ironia;
por dizer muito escrevendo pouco, num texto “enxuto”, sem palha.
Mas este assunto trás-me à memória três situações, uma mais pessoal e próxima, e duas mais longínquas, no tempo e na geografia. Aqui vão.
Nasci no Lobito, Angola, em 1960, e fui colega de escola de um garoto como eu, cujo nome não refiro para sua segurança, desde os 6 anos, quando começámos a frequentar a escola primária; eu vim para Portugal após o 25 de Abril de 1974, e antes da independência em 11 de Novembro de 1975; ele ficou em Angola, e quando conseguimos contactar de novo, décadas depois, era ele do MPLA, mas algo crítico; quando se começou a falar da sucessão de José Eduardo dos Santos (JES), eu, no ano passado, em puro jeito de brincadeira, mandei-lhe um mail, sugerindo que um antigo ministro amigo dele concorresse à Presidência, propondo que ele viesse a ser Vice- Presidente; ele devia estar ao computador, e com o correio eletrónico aberto, pois em escassos minutos me responde que nunca mais voltasse a escrever algo parecido, porque por lá têm a noção que todas as comunicações estão controladas, e mesmo algo tão inofensivo como o que lhe escrevi, podia ter consequências graves...
Na Alemanha, em 1933 e 1934, o Partido Nazi utilizou um processo para colocar rapidamente todos os aspetos da vida dos seus cidadãos sob o controle do partido, e todas as organizações passaram a ter a sua liderança substituída por simpatizantes do nazismo ou membros do partido.
As eleições alemãs de 1933 decorreram em clima de intimidação. No dia 5 março de 1933, o Reich alemão escolhia o seu novo parlamento. Mas as prisões arbitrárias e o terror levado a cabo pelos nazis durante a campanha eleitoral fizeram do último pleito parcialmente democrático uma grande farsa...
O partido estado dominava tudo.
A 13 de março de 1938, a Alemanha anuncia oficialmente a anexação da república austríaca e converte-a numa província do Terceiro Reich. Em 10 de abril, um referendo avaliza a anexação com 99% de aprovação da população. Será possível entender tal unanimidade como uma normalidade?
Sabe-se como tudo acabou.
Mas não quero que pensem que estou a querer comparar JES a Hitler. Afinal o primeiro não usa os tão peculiares bigode e penteado como o segundo...
Apetece-me por fim aconselhar um livro a JES: “Ética para um mundo sem ética”, da brasileira Marcia Tributai, Edit. Nota de Rodapé. Caso me comprove que não tem dinheiro para o comprar, ofereço-me para lho dar...
Melhores cumprimentos,
Paulo Jorge Santos Figueiredo
(monárquico, militante do PSD, mas social-democrata, nascido no Lobito, Angola, em 1960)
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