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O PNAC-RAD: um “Mein Kampf” pós-moderno?

Declaradas sem interesse as questões de forma ou estilo, parece-me justo quanto a motivações, meios e objetivos, equiparar os documentos em causa.

O neoconservadorismo, ideologia que inspirou e engendrou o PNAC-RAD (Project for a New American Century- Rebuilding American Defenses) irrompeu com toda a sua força nos anos terminais da guerra fria. Consideravam os autores e signatários destes documentos, que o colapso da URSS e a desagregação do Pacto de Varsóvia, ofereciam uma oportunidade aos EUA para ampliar a sua já vasta área de influência global, podendo assumir guerras simultâneas em vários pontos do globo, caso entendesse estarem em causa os seus interesses.

Em pleno delírio suprematista, os «profetas» neo-cons anunciavam ao mundo que os EUA eram a hiperpotência predestinada a gerir o planeta, policiar o mundo e arredores, arbitrar ou impor a nova ordem (à lei da bala e do míssil, se necessário) em caso de conflitos.

O RAD está subdividido em 4 capítulos ou áreas:

A. Pax Americana - Um quadro geral daquilo que deve ser a Nova Ordem Americana e como ela pode e deve ser imposta e gerida.

B. Garantindo a Hegemonia Global - esta parte assinala os “pontos quentes” ou problemáticos onde os EUA mais tarde ou mais cedo serão chamados a intervir. Aqui já eram apontados os países que de facto vieram a sofrer agressões militares dos EUA e da NATO.

C. Reconstruindo as Forças Militares - aqui traçam-se planos para expandir o poder global americano.

D. As Futuras Guerras no contexto da Pax Americana. - Aborda-se o controlo total de terras, mares, ar, espaço e ciberespaço.

No desenvolvimento de cada um destes capítulos aparecem-nos conceitos inquietantes porque familiares, como o de uma nação, pelo seu excecionalismo - o equivalente pós-moderno de “raça”? - tomar unilateralmente para si vários direitos, a saber:

- O direito de ataque, (guerra preventiva ) que inclui remover líderes ou regimes incómodos noutros países e continentes (por golpes de estado ou intervenções militares).

- O direito de promover a guerra total e por tempo indefinido (ser capaz de intervir em várias frentes do planeta), agindo (unilateralmente ou com aliados) sem qualquer consideração pelas Leis, Tratados e Instituições Internacionais, desprezando a ONU, o Tribunal Penal Internacional, a Convenção de Genebra e todas as organizações não governamentais (em prol do clima, do desarmamento e dos direitos humanos etc…)

- O direito de impedir/sabotar o desenvolvimento tecnológico e de outros países, para que não venham a constituir-se em potências regionais.

A inevitabilidade dos conflitos é certeza autoalimentada, tanto no Mein Kampf como nos documentos do PNAC-RAD. A predisposição para agredir é projetada em outrem e assim os neocons consideram que outros povos apenas não atacam os EUA porque não estão em posição de o fazer. No entanto - sintomático - esses povos, nesta visão paranoica, buscam incessantemente formas de se superiorizarem pelo que, colocada nestes termos a questão, os signatários entendem que toda a guerra ofensiva é justificada por motivações defensivas (ataca-os antes que eles te ataquem a ti, é o mote).Hitler no “Mein Kampf” já tinha também explorado este ponto de vista.

O PNAC-RAD e “Mein Kampf” não foram ou são livros/documentos como outros: produziram efeitos reais, foram e são um enunciado muito completo de intenções agressivas, muitas delas tragicamente cumpridas, com alvos previamente assinalados. No caso, o Médio Oriente tem sido para a nossa época o que a Europa de Leste foi para o 3º Reich. Na fase seguinte, prevista pelo RAD, extremo oriente será a próxima área de intervenção da Nação “excecional e imprescindível”.

Segundo foi noticiado, o “Mein Kampf”, livro praticamente ignorado fora da Alemanha até ao fim da segunda guerra mundial, atingiu recentemente o top de vendas em Portugal. Desconhecendo nós o perfil dos compradores, o facto por si só não é mau nem bom.

Estranho mesmo foi o facto de ninguém se ter interessado, à época, pelo “Mein Kampf” como estranho é hoje haver tanta gente que nunca ouviu falar do PNAC-RAD, programa militar neocon para assegurar a hegemonia mundial dos EUA.

Salvaguardadas as diferenças relativas a épocas e circunstâncias, declaradas sem interesse as questões de forma ou estilo , parece-me justo quanto a motivações, meios e objetivos, equiparar os documentos em causa.

Para mais informações, consultar os sites:

http://newamericancentury.org/RebuildingAmericasDefenses.pdf

http://www.informationclearinghouse.info/article1665.htm http://www.informationclearinghouse.info/article2326.htm

http://www.mail-archive.com/[email protected]…/msg12730.html

http://pilger.carlton.com/print/124759

Sobre o/a autor(a)

Professor. Cabeça de lista do Bloco de Esquerda no círculo de Viseu, nas eleições legislativas de 2015
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