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Quintinices
Na verdade, a quintinice vive do júbilo de responder ao que se julga ser a expectativa do homem comum em tempos sombrios: o medo do futuro, a insegurança e o desespero, entroncando na ancestral desconfiança face ao outro. O autor das quintinices quer ser popular e adorado pelas massas.
As quintinices são alegorias maldosas e banais sobre o cigano, o pobre, a mulher, o gay, o muçulmano, o cristão, o judeu, o comunista...
Quando é preciso transformar o medo interior em medo social, coletivo e partilhado, emergem as quintinices, bebendo nas fontes mais antigas, ainda que envenenadas, da estória que contamos a nós mesmos sobre a nossa identidade. Uma estória em que o cigano, magnífica abstração que economiza toda a diversidade do mundo, é ladrão por vocação, malandro por gosto e destemperado por natureza. "Se não comes a papa toda, vem um cigano e leva-te"; " se não te portas bem, vendo-te ao cigano".
Hitler, outro vocacionado para as quintinices, resolveu a questão matando judeus e ciganos em campos de concentração.
Não, a ignorância não é mesmo nada fixe. Ainda que se tenha um batráquio em vez de cérebro.
Artigo publicado em p3.publico.pt a 2 de agosto de 2016
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