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Sapadores Florestais: Essenciais, mas mal pagos

Dezassete anos após a criação das primeiras equipas, é generalizado o reconhecimento da qualidade do seu trabalho e o seu enorme contributo para a prevenção e vigilância de incêndios. Mas, o financiamento pelo Orçamento do Estado mantém-se inalterado.

Agora que a floresta voltou a arder, reabre-se o debate sobre o que deveria ser feito para que o fogo não seja uma catástrofe anunciada.

O fenómeno é muito complexo, sabe-se. Assim como é reconhecida a abnegação dos dez mil homens e mulheres que, este ano, combatem os incêndios, por este país fora.

Mas o fogo voltou --- volta sempre. Encontra um território desertificado, uma floresta desordenada em que prevalece a monocultura, sobretudo do eucalipto, e um trabalho de prevenção menorizado e subfinanciado.

Por agora, neste curto apontamento, é aqui que queremos chegar: à prevenção, muito assente nas Equipas de Sapadores Florestais (ESF)

Estas equipas, criadas em 1999, são constituídas por cinco unidades dotadas de capacidade e conhecimentos específicos. São profissionais muito preparados.

Ao longo do ano desenvolvem, com caráter permanente e de forma sistemática e eficiente, ações de silvicultura preventiva e, simultaneamente, ações de vigilância e de apoio ao combate de incêndios florestais.

A (boa) ideia é contribuir para a diminuição do risco de incêndio e a valorização do património florestal, reforçando as estruturas de prevenção e de combate já existentes.

Os sapadores florestais são envolvidos no esforço conjugado das diferentes entidades empenhadas na defesa da floresta contra os incêndios.

Dezassete anos após a criação das primeiras equipas, é generalizado o reconhecimento da qualidade do seu trabalho e o seu enorme contributo para a prevenção e vigilância de incêndios.

Mas o reconhecimento da valia desse trabalho não se traduz no seu reforço. Bem pelo contrário. Nos últimos quatro anos, o número de equipas de sapadores florestais, terá baixado de 283 para 258.

Por outro lado, o financiamento pelo Orçamento do Estado mantém-se inalterado, em 35 mil euros anuais, por equipa. Um montante que se fosse simplesmente atualizado já deveria ir nos 47 mil euros. De resto, as associações florestais estimam que a manutenção da operacionalidade de uma ESF custe anualmente cerca de 100 mil euros.

Entretanto, mantém-se os contratos de financiamento apenas anuais, gerando permanente incerteza e instabilidade; as viaturas e os equipamentos degradaram-se e não foram substituídos; não há formação profissional, para trabalho tão exigente e arriscado.

O programa do atual XXI Governo Constitucional atribui primazia “à proteção da floresta face aos incêndios e agentes bióticos nocivos”. Boas intenções e sábias palavras.

Mas, só isso… Este ano, não houve qualquer reforço financeiro na prevenção. Na realidade, as associações de produtores e as autarquias que enquadram equipas de Sapadores Florestais estão, elas próprias, a financiar o serviço público. As que podem fazê-lo…

O Secretário de Estado das Florestas e do Desenvolvimento Rural, Amândio Torres, já anunciou que, para o ano é que é: irá haver mais investimento na prevenção e, em particular, nas equipas de Sapadores Florestais.

Veremos. Mas seria de elementar justiça que, pelo menos, fosse imediatamente atualizado o financiamento de cada equipa, para os 47 mil euros anuais. No mínimo. Sem isso, soam a oco as palavras simpáticas sobre a abnegação dos que estão na primeira linha do combate aos incêndios.

Sobre o/a autor(a)

Engenheiro técnico de comunicações. Dirigente do Bloco de Esquerda
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