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A intolerável purga
No passado dia 15 de Julho a notícia do golpe de estado na Turquia entrou-nos pela casa dentro. Primeira reação foi de repúdio pelo golpe, em democracia as coisas não se resolvem assim. O golpe durou pouco e o presidente turco Tayip Erdogan, que em 2013 quis fechar as redes sociais e limitar o acesso à net, quando dos protestos na praça Taksim em Istambul, agora usou esses mesmos meios para falar e mobilizar a população e poucas horas depois já estava na Turquia.
O que assistimos depois é intolerável. O que continuamos a assistir. É impossível seguir todas as notícias e os números vão caindo em catadupa: entre detidos e “afastados” estão mais de 3.000 militares; 2.800 juízes; 1.577 reitores; 21.000 professores, 7.000 polícias estão presos; 2 juízes do Tribunal Constitucional são presos, os mesmos que ordenaram a libertação dos jornalistas que tinham investigado uma venda de armas turcas na Síria.
Liberdade de imprensa ameaçada, um ataque sem precedentes ao sistema judicial e a ameaça sempre presente da reintrodução da pena de morte no país. Fala-se, pela voz de um responsável do governo, da necessidade urgente de mudar a lei para facilitar o acesso à licença de porte de arma, no que é visto como a antecâmara da guerra civil.
A Turquia tem 80 milhões de habitantes, membro da NATO, detém o segundo maior exército, sendo que o primeiro está nos Estados Unidos da América. Erdogan levou a cabo um segundo golpe com consequências catastróficas e ainda não vimos tudo. É parceiro da União Europeia? Que vai acontecer com os refugiados, entregues à Turquia, para que “guarde as fronteiras” e os retenha? Milhares de milhões de euros foram entregues para que a União Europeia durma descansada, num acordo que envergonha e que significa o virar de costas da “Europa dos valores” perante a mais grave crise humanitária dos últimos anos.
Erdogan não se cansa de afirmar que os responsáveis pelo golpe “pagarão um preço muito alto”. Elimina-se a oposição, prende-se, tortura-se, faz-se uma purga aos principais setores do Estado. Isto chama-se ditadura. E A União Europeia, se optar pelo silêncio, também pagará um preço muito alto.
Artigo publicado em mediotejo.net
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