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Política morna, manhosa e malvada!

A última reunião de Assembleia Municipal evidenciou o embuste taticista com que se rege a política em Barcelos, perante uma Câmara ingovernável e em suposta falência. No espetro de um concelho estagnado com o futuro comprometido.

No meio de um turbilhão de aziagas condenações e de insultuosa altercação de bastidores com manifestas suspeitas de negócios paralelos. A reunião guiou-se por um registo de “calmia aparente” à espera do furacão destronador, trajando a desprezível regra da falsa posição. Se percebo a saloiice comodista do PSD numa perspetiva mesquinha, manhosa e oportunística de fritar em lume brando para queimar até ao tutano, considero a posição do PS despojada e desnorteada. Diante de uma moção de censura ao executivo camarário apresentada pelo Bloco de Esquerda, que remete para a dignidade e honradez do exercício de cargos públicos, que chama a atenção para o facto de ser a vida das pessoas e o futuro dos barcelenses que está em causa, que defende o assumir de responsabilidades e um estancamento rápido e eficaz da degradação, que alerta para a insustentabilidade e para a arteirice dos enlaces partidários de suporte a quem se quer manter no poder a qualquer custo, que exige uma resolução que ponha cobro a esta vergonha nacional e restitua a decência no executivo municipal do nosso concelho. Votaram contra. Mas afinal em quê que o PS não se revê no texto apresentado? É por ser muito frontal e tocar na “ferida”? Pois é, mas a transparência e a hombridade assim impõem pela defesa do interesse coletivo da população. Não é a política morna, ziguezagueante, sem clareza nem ideologia, que caracteriza o “centrão” cinzento e opaco e que facilmente se põe a jeito das malvadas conveniências circunstanciais, que serve o poder local. Também não é válido o fundamento do infrutífero, porque legalmente não derruba o executivo. E então o efeito político e a sujeição à censura num plenário representativo da população, não interessa para nada? Por paralelismo, faz-me lembrar os que de forma reacionária e com ambliopia política dizem que as greves da função pública só servem para o governo poupar dinheiro.

Para adensar a confusão e tornar a argumentação hilariante é o próprio PS que reclama eleições intercalares e destituição do atual executivo. Interessante e coerente. Vem a propósito fazer analogia com um sketch fedorento que tinha por protagonista o hiperafetivo Presidente da República. Quer censurar o executivo? Não. Concorda com a moção de censura? Sim. Quer retirar a confiança política? Não. Exige a demissão dos eleitos? Sim. O que vai resultar de tudo isto? Nada. Vão entregar o poder à direita? Sim.

A certificar a desorientação do PS local veja-se a incongruência política na in(defesa) da Escola Pública. Sendo uma das mais assertivas medidas do atual governo em matéria de educação tomando como princípio que onde há escolas públicas o Estado não paga colégios, o PS, na reunião de AM em Abril, votou favoravelmente uma moção do CDS pela abonação dos dois colégios afetados no nosso concelho. Nesta reunião de junho, votou contra uma moção da CDU de apoio à regularização da legalidade e moralidade dos contratos de associação, enquanto instrumento supletivo da Escola Pública. Convenhamos que é difícil entender as razões do absurdo.

Finalmente percebo porque é que não se elucida os munícipes sobre o móbil da contenda. Salvo um prospeto de pré-campanha eleitoral do ainda presidente, que pagamos para receber em casa, com um exercício de auto encómio e de recalcamento da falácia da cidadania, nada mais foi aclarado porque, na verdade, nada há para explicar. Há projetos de desenvolvimento diferentes e incompatíveis? Não me parece. Há visões de futuro e de perspetiva política inconciliáveis? Não creio. Há estilos divergentes do exercício do cargo e aspirações políticas em colisão. Penso que sim, mas por si só não justificáveis de tanta cólera. Há traições e deslealdades insustentáveis? Declarem-nas publicamente. E se assim é, como justificam terem partido para um segundo mandato tão concomitantes e tão arraigados às mesmas propostas? A democracia engrandece-se no pluralismo e na contrariedade mas a ambição pelo poder tolhe a democraticidade das atitudes. E se estão à espera que as cinzas da degradação cubram a dignidade da representação, seja quem for que suceda só terá escombros para governar. Haja respeito pelos cidadãos, haja honra pelos cargos, haja seriedade pelos valores do poder local. Bem-haja a quem assim considera e executa.

Artigo publicado no “Jornal de Barcelos” em 13 de julho de 2016

Sobre o/a autor(a)

Professor. Dirigente do Bloco de Esquerda
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