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O Brexit e a corrida referendária da extrema-direita

A extrema-direita percebeu perfeitamente as fragilidades da União Europeia e da União Económica e Monetária: as suas fundações antidemocráticas.

Os movimentos ultraconservadores (e bem piores do que isso) passaram a levantar as bandeiras da defesa dos seus regimes constitucionais, da soberania popular e, em quase todos os casos, do Estado Social – relegando para segundo plano ou travestindo a sua tradicional agenda rácica, económica e autoritária, com exceção óbvia para a recente crise dos refugiados – demonstrando o antagonismo entre estes e as regras cada vez mais estreitas das instituições europeias.

Esta mudança permitiu que por toda a Europa, com honrosas exceções para Portugal e outros estados, a extrema-direita catapultasse da insignificância partidária para o palco principal da arena política e governativa, esmagando pelo meio vários movimentos tradicionais do pós-guerra.

Se a esquerda europeia chegar tarde ao comboio da resolução deste problema será responsável por entregar o poder às forças reacionárias e seus aliados. Nessa complexa tarefa, não vale a pena apregoar um euroromantismo por uma União que gostávamos que existisse, e, sejamos francos, nunca existiu, em nome da manutenção da atual – a proposta Varoufakis. Esta tática só agrega em matéria funerária, e com os partidos da Internacional Liberal e dos Verdes Europeus, que caminham para os manuais de história a velocidade cruzeiro.

A social-democracia europeia já percebeu o problema, mas tem medo e incapacidade para o enfrentar facilmente. Resta-lhe dois caminhos: reduz-se ao papel de patrocinador secundário de coligações com conservadores – Grande Coligação na Alemanha –, erodindo lentamente e submetendo-se à subjugação por todos os campos à esquerda e à direita; ou faz revisionismo das suas teses atuais e procura reencontrar-se com o seu eleitorado tradicional com uma agenda socialista (Labour de Jeremy Corbyn), o que implica rasgar tratados que elaborou e chocar com instituições que criou e governou.

Ficar parado e reduzido ao papel de denunciantes do bicho papão, enquanto a extrema-direita se solidifica na normalidade política, é desistir do combate. O programa do campo socialista e as vitórias operárias e populares, que imprimiram nas leis fundamentais as conquistas sociais, defendem-se em contradição com a União Europeia, por uma outra ideia de Europa e de solidariedade entre povos. É esta a tarefa que temos: reconquistar direitos sociais e laborais, inverter relações de forças e manter vivo o património antifascista da Europa.

Artigo publicado em acontradicao.wordpress.com

Sobre o/a autor(a)

Dirigente do Bloco de Esquerda. Sociólogo.
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