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Há limites para a desigualdade nos salários?
A decisão do Governo reacendeu um debate mais vasto sobre a desigualdade salarial e os limites às remunerações. António Costa falou na importância de pagar a estes gestores de acordo com “os valores que se praticam no mercado”. A esquerda criticou e opôs-se à decisão. Alguma Direita, que acha normal que um gestor de um Banco ganhe 200 vezes mais que um trabalhador da mesma instituição (são as leis do mercado, alegam...), tentou apanhar a boleia das críticas. Mas de forma inconsequente e até oportunista. Na verdade, se na sua opinião não é razoável esta desigualdade na Caixa, por que a aceitam noutros bancos ou empresas privadas? Por exemplo: é aceitável que na Sonae, uma empresa que teve mais de 1000 milhões de faturação e 30 milhões de lucro so no primeiro trimestre deste ano, um gestor ganhe 90 vezes mais que um trabalhador, que é quem produz a riqueza da empresa e a quem se paga menos de 600 euros por mês para funções peníveis e desgastantes? Ou que na Efacec essa diferença seja de 60 vezes?
Portugal é um dos países com maior desigualdade social da Europa e tem taxas de pobreza assalariada acima dos 10%. Ao mesmo tempo que nos últimos anos se multiplicaram salários milionários para poucas centenas de gestores, um décimo dos trabalhadores ganha tão pouco que, mesmo tendo emprego, não consegue sair do limiar de pobreza. Limitar a diferença entre salários é uma forma de combater esta ofensa. Se o salário de um gestor não pudesse ser mais do que x vezes o do trabalhador da mesma empresa, isso seria uma forma de os salários mais baixos subirem e de os mais altos terem algum limite.
Na Suíça, em 2011, mais de cem mil cidadãos propuseram um referendo sobre este assunto. A proposta era que numa empresa ninguém pudesse ganhar num ano menos que o salário mensal mais alto. Ou seja, nenhum salário deveria ser mais do que 12 vezes o salário mais baixo pago na mesma empresa. O projeto, que foi considerado constitucional e legítimo, não se transformou em lei, mas lançou um debate importante que, na Europa e não só, está longe de se encontrar concluído.
Os defensores dos salários ilimitados invocam normalmente três argumentos para se oporem a uma medida deste tipo.
O primeiro é a necessidade de remunerar a competência. Porém, como é sabido, foram os gestores privados com salários e prémios milionários quem afundou o sistema financeiro português. Para os que achassem que remunerações principescas eram indicador de competência (nomeadamente para gerir a Caixa Geral), estamos conversados.
O segundo argumento é o da soberania do mercado: o que deveria definir o preço a pagar pelo exercício de determinada função seria a pura lei da oferta e da procura. Sucede que o mercado, como se sabe, não é democrático, não tem critérios de justiça e não é racional. Além de frequentemente resultarem de mecanismos de influência questionáveis e de contribuírem para a desigualdade, os salários e prémios abusivos canibalizam as receitas das empresas e estimulam comportamentos de risco dos gestores que, frequentemente, põem em causa a própria sustentabilidade daquelas.
O terceiro argumento é o da “liberdade económica”: o Estado interferir nesse tipo de matérias seria um atentado à liberdade da iniciativa privada. Ora, como se sabe, toda a atividade económica, pública e privada, é regulada pelo Estado, desde o funcionamento das assembleias de acionistas até ao valor do salário mínimo. A que propósito não poderia a democracia ter uma palavra a dizer sobre o limite das desigualdades salariais?
Se o combate à desigualdade não é só uma expressão bonita para dias de festa, então ele deve traduzir-se em decisões e regras concretas. Claro que um sistema de impostos progressivos, serviços públicos universais e a redistribuição de rendimento através de transferências sociais são instrumentos estruturantes desse combate. Mas por que não atacar também uma das principais fontes do problema, que é a desigualdade no salário?
Artigo publicado em expresso.sapo.pt a 18 de junho de 2016
Comments
e continua a aumentar o fosso
e continua a aumentar o fosso...
Efacec retira carros a Colaboradores essencialmente quadros técnicos.
A actual administração da efacec está a chamar os colaboradores um a um e a referir que tem de entregar a viatura que lhes foi atribuida como complemento de sálario até 31 de Agosto de 2016.
uma empresa que já foi uma das grandes nacionais e que agora está nas mãos da Isabel dos Santos.
Os colaboradores estão juntos de mais uma injustiça.
Foram dos visados com esta medida...
http://www.quicktopic.com/52/H/py6PPBBrdgU
A realçar deste texto, e na
A realçar deste texto, e na minha opinitiva uma ideia bastante interessante ((que vem ao encontro de outra há uns tempos recriei e que publico mais abaixo para contraste e reflexão ) :"Na Suíça, em 2011, mais de cem mil cidadãos propuseram um referendo sobre este assunto. A proposta era que numa empresa ninguém pudesse ganhar num ano menos que o salário mensal mais alto. Ou seja, nenhum salário deveria ser mais do que 12 vezes o salário mais baixo pago na mesma empresa. O projeto, que foi considerado constitucional e legítimo, não se transformou em lei, mas lançou um debate importante que, na Europa e não só, está longe de se encontrar concluído."
"Que seja calculado sobre IRC segundo rácio de salário médio , e salário mais elevado dentro da empresa, cabendo a cada empresa definir tal proporção"
Não vejo grandes diferenças entre a 1ª e a última, tanto mais que a 2ª medida, não impõem limite nenhum à afixação de salários: concede inclusivé todo o poder decisional ao patronato.Bem sei ue muitos argumento evocariam o facto de combate à desigualdade no 1º caso é focado diretamente por limitação mediante salário mais alto, Pensemos: para alem doa mais a 2ª privilegiava melhor distributividade salarial, e sentimento coletivo que a 1ª medida , a qual se ausenta- por completo- na variável social mais reformador a e SAGRADA : A Reflexão .Invés disso, baseia-se numa imposição propensa a corrupção.;)
José Soeiro,
José Soeiro,
Distributividade ou Precariedade: Se tivéssemos de escolher UMA APENAS (onde já ouvi isto =) ), qual das duas variáveis sofre maior dependência e interferência nos dias de hoje? Variavel Distributividade sequencia Precariedade ou é inverso?
Sobre uma outra tematica indiretamente relacionada com a Precariedade: Moral e Etica Profissional. Será que a aplicabilidade de coima , na sequencia de reprovação (< 8valores)de recrutadores em testes de avaliação em RH em instiuições Estatais (Juntas de freguesia por exmplo)
Deverá a Moral interferir nas receitas financeiras ? Uma coima que é aplicável em tantos dominios, pis não é mais que instrumento que aplica a moralidade em desfavor do capital? É imoral avaliar a moral empresarial?
Por outras palavras, José
Por outras palavras, José Soeiro, o Estado tem o dever e obrigação de inventar outros meios de receitas..Não sei se este comentário surtirá desencadeamentos de como as variaveis de produtividade e qualidade de emprego se interagem mutuamente..Ficou uma singela ideia de como PODE HAVER DINHEIRO , caso se queira.
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