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10 de Junho: A Pátria nos contempla
Em Paris avançou mais e proclamou: o nosso povo é melhor que os políticos e, mais à frente, o nosso povo é o melhor de todos.
E mostrou-nos como símbolo imorredouro da perenidade da Pátria as Forças Armadas em parada. Para reforçar a simbologia do momento, condecorou três ex-combatentes da guerra colonial. Que certamente terão merecido as condecorações. O heroísmo faz parte da nossa idiossincracia; como da de qualquer povo. Assim como qualquer povo é capaz dos maiores feitos, e até pelas piores razões, da mesma forma todos os povos do mundo têm, cada um por si, Deus do seu lado mesmo quando se chacinam uns aos outros em nome da pátrias, também cada uma delas, no confronto, protegida por Deus com a mesma intensidade. Embora os EUA e Israel, o Irão e a Arábia Saudita estejam à sua mão direita.
O capelão das FA’s lá esteve na cerimónia exaltante a encomendar as almas e, fundamentalmente, a sublinhar que os cidadãos e as cidadãs, logo que incorporados na instituição militar, passam a gozar da protecção de Deus mesmo que sejam indiferentes à ideia ou repudiem tal encomendação. A República saída do 25 de Abril cede perante a magnificência do Senhor.
Deus /Pátria /Família; Futebol e Fátima (o Fado deixou de fazer parte da segunda trilogia, em minha opinião) reintegram a boa alma lusitana, agora com muito mais ênfase, no projecto presidencial para alcançar um afectuoso consenso.
A guerra colonial e a presença do Senhor nas cerimónias do 10 de Junho, na simbólica Praça do Comércio – eu sei que foi também lá que o Maia enfrentou o Junqueiro e os M-47 de Cav.7 – reganham o seu papel de sólido alicerce da linha do patriótico consenso (que não se proclama indiscutível mas que pretende insinuar-se como tal) onde o fascismo e a glorificação da guerra colonial e de quem a travou, se instalam sorrateiros nas comemorações (do dia da raça como disse Cavaco há três anos) num apelo à temperança e à unidade superior, mostrados como momentos menos bons que o tempo se encarregou de esvanecer e que, na sua essência profunda, devem ser restabelecidos como cimento da pátria.
Esta sã ideia percorre e arrepia a espinha dos nossos mais preclaros dirigentes desde o 25 de Novembro. E teve um momento alto aquando da inauguração, em Belém, já lá vão duas décadas, do monumento aos combatentes, que “morreram pela pátria” na “guerra do ultramar”. Tudo à maneira.
O 25 de Abril, se estivesse bem vivo, não se teria compatibilizado com tamanha enormidade. Mas a ideia do consenso já grassava há muito. E, a não ser da “extrema esquerda” ou radical como agora se concede, não houve uma voz incomodada capaz de proclamar que aqueles milhares de mortos, numa espécie de “leva da morte”, só que mais engalanada, foram vítimas, quase todas inocentes, do fascismo e da sua política de opressão colonial.
Agora aqui vamos nós atrás de Marcelo, oh! há quanto tempo não se via um 10 de Junho assim: o povo no centro - todos os grandes consensos nacionais precisaram e precisam dele, desde que bem enrolado - e as FA’s ultimo reduto da soberania, heróico penhor do consenso em construção.
A pátria imorredoira, as forças armadas patrioticamente à espera de ordens da NATO e Marcelo apelando ao consenso nacional, a bem da nação (? ), gritando divertidamente aquilo que todos querem ouvir: o povo é melhor do que os políticos e Portugal é o melhor do mundo como vai começar a demonstrar no euro 2016.
Ele sabe que o seu consenso significaria na realidade um outro dissenso: as forças que hoje formam um consenso à esquerda para o Governo repor os direitos do trabalho e portanto falar alto em Bruxelas, entrariam em confronto directo contra a repetição do consenso, que ele deseja realmente, do PS com a direita.
Mas há voltas que o mundo não pára de dar e, para já, o próprio PS já deu a entender que o caminho se vai fazer deste lado, “do lado de cá da vida” como diz o Zé Fanha.
A um consenso corresponde um dissenso. O consenso nacional marcelista não passa da visita de uma velha senhora, do sonho submerso, por enquanto, de uma qualquer união nacional o mais afectuosa possível, quando possível, sempre democrática com certeza.
O populismo está aí, afectuoso e manipulador das consciências como sempre, por enquanto apenas numa de “chega para lá”.
O Presidente pensará que a luta de classes é uma impertinência filosófica de Karl Marx. Mas não, ela é a parte nuclear do movimento social que transporta em si a transformação.
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