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Os Açores precisam de mais

Se 40 anos de Autonomia merecem, sem dúvida, ser festejados, devem ser também motivo de reflexão para preparar o futuro.

Na passada segunda-feira, comemorou-se a nossa Autonomia e os seus 40 anos de vida.

Independentemente dos diferentes ângulos de análise e dos problemas existentes (que são muitos e graves), penso que todos/as estamos de acordo numa coisa: sem Autonomia estaríamos muito piores!

Esta fórmula de governo próprio, tendo já provado os seus méritos, impõe mais responsabilidade ao poder político regional, obrigando-o a uma real proximidade das pessoas e dos seus problemas, no sentido de encontrar uma mais rápida resolução dos mesmos.

Se 40 anos de Autonomia merecem, sem dúvida, ser festejados, devem ser também motivo de reflexão para preparar o futuro.

A envolvente externa - no país, na Europa e no mundo - passa por momentos muito complicados, onde predomina a vontade dos grandes trusts, aliados ao capital financeiro, devorando (na defesa dos seus interesses) a vida das pessoas, do ambiente e do próprio planeta.

Hoje, exigem-se políticas e dirigentes políticos que façam frente a este terror, com coragem e ousadia e, também nos Açores, estas qualidades são necessárias e urgentes.

Renovar os objectivos e ampliar as possibilidades de acção e de intervenção da Autonomia são desígnios referidos pelo Presidente do Governo Regional, no discurso do Dia da Autonomia. Não poderia estar mais de acordo com as suas palavras. Contudo, a acção concreta do Governo Regional e do Partido que o suporta, nada mostra nesse sentido.

Num momento em que interesses poderosos viram os olhos para as potenciais riquezas do mar dos Açores, é obrigatório pensar como poderemos defender o que é nosso, reivindicando o alargamento dos poderes autonómicos, como instrumento de luta. Este assunto, em minha opinião, deveria ser o centro do debate sobre a ampliação da Autonomia.

Os Açores não precisam de jogos florais para entreter. Precisam de propostas para o seu futuro. Propostas assentes em ideias fortes e contextualizadas, na nossa realidade. Lamentavelmente, é isso que não vemos na elite dirigente.

Mas para o Senhor Presidente e para o Partido Socialista, o centro é o insistente tema do Representante da República. Sempre defendi que esta figura Constitucional deveria ser removida, desde que (e só, desde que) se encontrasse uma alternativa mais democrática. Ora, o PS (que faz deste assunto o principal factor de aprofundamento autonómico), saiu do seu recente Congresso sem respostas capazes de resolver a questão.

Os Açores não precisam de jogos florais para entreter. Precisam de propostas para o seu futuro. Propostas assentes em ideias fortes e contextualizadas, na nossa realidade. Lamentavelmente, é isso que não vemos na elite dirigente.

A Região não ultrapassará a encruzilhada que tem pela frente sem ideias fortes e políticos que as defendam, num debate maximamente alargado, diversificado e plural. Se sobre o aprofundamento da Autonomia andamos a fugir do essencial, já sobre o sério problema da nossa posição geoestratégica, o Governo Regional anda a reboque dos acontecimentos.

Até hoje, temos seguido os humores de políticos – ora norte, ora luso-americanos -, para quem a Base das Lajes, tanto vai ser um centro de inteligência militar, como um centro de investigação científica, como outra coisa qualquer, dependendo da vontade do Pentágono e nunca da nossa! Para quando uma visão estratégica clara e assente nos interesses dos Açores?

E para quando uma ideia séria sobre o Centro Internacional de Ciências do Mar, no Faial, em vez da cacofonia vigente?

Os Açores já têm muito vento, não precisam de mais ventania… Precisam de ideias claras e nossas!

Sobre o/a autor(a)

Dirigente do Bloco de Esquerda. Deputada à Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores, entre 2008 e 2018.
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