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O que será do Algarve?
Enquanto ministro, Moreira da Silva concessionou metade do distrito de Faro e uma parcela igualmente impressionante da orla marítima algarvia para a prospeção e exploração de petróleo. A concessão foi feita com base numa lei caquética, datada de 1994, quando o aquecimento global e as preocupações ambientais eram considerados fantasias de doidos. Hoje sabemos que fantasia é ignorar a sua existência, e é por isso que existe, aliás, um cargo na ONU dedicado à matéria.
Esta lei permitiu então ao Governo de Passos entregar, sem concurso, o Algarve à Portfuel, de Sousa Cintra, que terá cerca de 122 anos quando o contrato terminar. Para além do absurdo de se estar a promover combustíveis fósseis quando todos sabemos que esse caminho não é sustentável, há três coisas a dizer sobre este negócio.
Em primeiro lugar, viola leis e diretivas comunitárias que obrigam a consulta pública, à participação das populações nestes planos ou à existência de uma avaliação ambiental estratégica.
Em segundo lugar, põe em causa a estabilidade ambiental e biológica da região. Os contratos preveem explicitamente o recurso à fratura hidráulica como técnica de exploração. Esta técnica é proibida em vários países da UE pelos seus perigos para a qualidade da água, do ar, e pelos riscos de potenciar terramotos, entre outros.
Em terceiro lugar, é um mau negócio. Para a região, porque conflitua com as atividades agrícolas, piscatórias e de turismo. Para o Estado, porque negociou taxas de rentabilidade estupidamente baixas pelas concessões.
O mais caricato da história talvez seja mesmo os nomes que deram às concessões no mar algarvio: lavagante, lagosta, lagostim, santola, gamba, sapateira e caranguejo. Quem sabe uma homenagem às espécies ameaças por estes contratos, assinados pelo homem que agora poderá estar na ONU para nos proteger das alterações climáticas.
Artigo publicado em 3 de maio de 2016 no “Jornal de Notícias”
Comments
Mariana tem toda a razão. Nem
Mariana tem toda a razão. Nem concurso público...nem consulta às populações...nem estudo ambiental.
Rico ministro do Ambiente...este Jorge Moreira da Silva.
Alguem ganhou com tudo isto...mas não foi seguramente o povo portruguês ou os algarvios!
Só há uma maneira de acabar
Só há uma maneira de acabar com isto. Quando os prospectores se prepararem para as perfurações, darem-lhes cabo do matrial à bomba. E aos donos das prospecções obrigarem-nos, bem como a Jorge M. da Silva, a beberem daquela água "limpíssima".
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