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Os ‘documentos do Panamá’

No passado domingo, rebentou mais um escândalo financeiro. Desta vez, o epicentro desta vergonha está sediado num escritório de advogados, no Panamá, mas estende-se a todo o mundo.

Empresários, desportistas, artistas, governantes, altos-quadros - enfim, a nata da sociedade endinheirada - utilizava este escritório para fugir ao fisco, nos respetivos países. Contudo, esta era a ilegalidade menos grave.

Pelos dados, até agora, disponíveis (sabemos que muitos outros ainda estão por publicar), o dinheiro ‘escondido’ resulta de lucros obtidos nos negócios da droga, tráfico de armas e seres humanos, apoio ao terrorismo e outras obscenidades.

Tudo isto ocorre, quotidianamente, com o beneplácito dos donos do mundo: do presidente da China ao Presidente dos Estados Unidos, de Hollande a Merkel, do FMI aos reguladores bancários, como a reserva federal alemã ou o nosso conhecido BCE.

Todos vêm, agora, a uma só voz, jurar aos povos, que tudo vai ser investigado, até ao último pormenor, doa a quem doer…

Balelas! Neste processo, não está só envolvido um escritório de advogados. Estes eram, apenas, os especialistas que trabalhavam com centenas de bancos de todo o mundo e ninguém sabia… ou fingia não saber.

Só à dimensão do nosso país, ‘fogem’ de Portugal, todos os dias, cerca de 2,3 milhões de euros! Dinheiro que ‘voa’ para offshores, sob a supervisão do Banco de Portugal. E é tudo legal. Só que depois do primeiro offshore, as "aplicações" desse dinheiro e os seus trajetos desaparecem dos radares!

Não podemos esquecer que, nos últimos três anos, foram descobertos esquemas de fuga ao fisco, de dimensão mundial, na Suíça e no Luxemburgo. E, no Luxemburgo, era na altura, primeiro-ministro, o Senhor Junckers, o arquiteto de tal embuste. Como prémio pela militância, neste tipo de burlas, foi nomeado Presidente da Comissão Europeia! Mais palavras para quê?!

Na verdade, tudo isto é uma verdadeira farsa, montada e mantida por estes senhores do mundo, para protegerem a fuga ao fisco, os negócios ilícitos e outros crimes hediondos contra os povos. A palavra de ordem destes senhores é ‘defender o capital financeiro’.

Mas, estes mesmos, insistem que não é possível aumentar ordenados, educação e saúde gratuitas, segurança social com pensões dignas, ou acabar com a fome no mundo. Porque não há dinheiro – dizem eles! Todavia, só na Europa, calcula-se que a fuga ao fisco, através de offshores, custe aos países cerca de 71 mil milhões de euros, por ano.

São estes senhores que, instalados na Comissão Europeia, exigem a austeridade para os trabalhadores e obrigam a que países debilitados (como Portugal) paguem, anualmente, só em juros de dívida pública, cerca de 9 mil milhões de euros.

No rebentar da crise de 2007/8, muitos deles, para tranquilizarem a ira dos povos, assumiram o fim dos offshores, ou regras duras sobre eles. Tudo mentira!

Claro que há bancos, empresas e individualidades portuguesas envolvidas neste crime. Claro que o nosso offshore, na Madeira (o tal que respeita as regras da UE), também pertence a esta rede, com comando no Panamá.

Também por isso, mais uma vez, insisto: - Senhores Presidente e Vice-Presidente do Governo Regional, quais as verdadeiras razões porque anunciaram a intenção de criar um offshore, nos Açores? Desistiram da ideia ou não? Os/as Açorianos/as têm o direito de saber!

Sobre o/a autor(a)

Dirigente do Bloco de Esquerda. Deputada à Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores, entre 2008 e 2018.
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