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Panama Papers e o Inverno interminável da Islândia

Passados oito anos do início da crise financeira, a Islândia torna-se, novamente, notícia na Europa e no mundo. O governo islandês está novamente manchado por escândalos financeiros.

Em 2008, quando a crise financeira mundial estalou, a Islândia foi dos primeiros países envolvidos em escândalos de corrupção. Três dos seus bancos privados foram investigados, banqueiros foram parar atrás das grades, 10% da riqueza do país desapareceu de um dia para o outro e, em menos de dois anos, a taxa de desemprego disparou para os 11,9%.Passados oito anos do início da crise financeira, a Islândia torna-se, novamente, notícia na Europa e no mundo. O governo islandês está novamente manchado por escândalos financeiros.

Não há mudanças de paradigma na gestão da vida democrática sem uma profunda alteração de regime. A crise financeira tornou-se regra na economia de mercado e a política de austeridade é a sustentação ideológica deste desmantelamento silencioso da democracia. E a teia dos Panama Papers só o comprova: a corrupção é produto da sistemática e progressiva desregulação financeira.

Os Panama Papers não são, por isso, uma surpresa, ou melhor, um fator que escapou às entidades reguladores do sistema financeiro. Apenas deixam a nu as fragilidades da atual fase do sistema capitalista baseado na especulação financeira, que suga a capacidade de produção e a transforma em especulação, fragilizando a economia real. São várias as fugas: ao fisco, aos reguladores, às leis dos estados, à opinião pública e à pressão social para o fim do sigilo sobre estas matérias.

O Governo da Islândia caiu com a pressão popular, após o conhecimento público dos milhões de documentos divulgados pelo Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação. Em cima da mesa estão ligações do primeiro-ministro e da sua mulher a uma empresa offshore

Teorias da conspiração? Não. É apenas o normal funcionamento do capitalismo financeiro.

A Islândia é a caricatura infeliz daquilo em que os campeões do neoliberalismo querem tornar a Europa e as suas economias. O paraíso fiscal em que se tornou esta ilha é o inferno de gelo que castiga as vidas dos islandeses, como se de um Inverno interminável de tratasse.

Artigo publicado no blogue A Contradição

Sobre o/a autor(a)

Museólogo. Investigador no Centro de Estudos Transdisciplinares “Cultura, Espaço e Memória”, Universidade do Porto
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