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Sobre a espanholização da banca

Com a compra do Banif pelo Santander e com a mais do que provável tentação do Santander e do CaixaBank pelo Novo Banco, abriu-se um debate no país: o da nacionalidade do capital que controla a banca a operar em Portugal.

O perigo da espanholização da banca é o tema de um manifesto que está a ser preparado por empresários e banqueiros portugueses e é um tema que tem merecido reparos, desde os mais velados (feitos, por exemplo, por Marcelo Rebelo de Sousa), até aos mais ostensivos (como o discurso de Paulo Portas no último congresso do CDS).

Cabe-nos perguntar se a discussão sobre a nacionalidade do capital é suficiente para responder aos problemas do sistema financeiro português. Não parece que o seja, porque discutir a nacionalidade não é o mesmo que discutir o tipo de propriedade e isso torna a discussão e as soluções bastante incompletas.

Dizem-nos os representantes do capital – os banqueiros, os empresários, a Direita em Portugal – que a deslocação dos centros de decisão para Madrid pode ter efeitos nefastos no financiamento às empresas portuguesas. A banca controlada a partir de Madrid pode privilegiar os interesses estratégicos das empresas do país vizinho, em detrimento das empresas nacionais.

Será, porventura, verdade. Da mesma forma que uma banca totalmente (ou quase totalmente) nas mãos de capital privado (independentemente da nacionalidade) responderá ao interesse de classe dos seus detentores e não propriamente ao interesse público. O BES era de capital português e sabemos bem a que interesses é que ele respondia. Não poderemos dizer que fosse a um interesse nacional, mas sim ao interesse de uma classe dentro de um país.

Se a tal espanholização da banca pode deslocar o centro de decisão, então o que dizer das consequências de uma banca onde a propriedade privada é quase total?

Quando discutimos o sistema financeiro em Portugal, não estamos condenados a escolher entre a burguesia portuguesa, a burguesia espanhola ou a angolana. Podemos e devemos escolher para além e em detrimento dos interesses da burguesia. Só assim estaremos a defender o interesse público, que é o interesse do povo.

Por isso, mais do que nacionalidade, há que discutir o tipo de propriedade. Enquanto os representantes do capital alertam contra a espanholização, nós, os representantes do povo, alertamos para os perigos da privatização. Essa é a discussão que vai verdadeiramente ao centro do problema e, por isso, só dessa discussão poderão surgir as respostas necessárias ao país.

Artigo publicado em acontradicao.wordpress.com

Sobre o/a autor(a)

Doutorando na Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto e investigador do trabalho através das plataformas digitais. Dirigente do Bloco de Esquerda
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