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Quando Moscovici Se
A aterragem em Lisboa do comissário europeu da economia, Pierre Moscovici, está marcada por uma expressiva polémica. À força de frases públicas e declarações anónimas, Bruxelas polui o debate do orçamento no parlamento português com "medidas adicionais" que nunca ninguém viu. O governo diz-se pronto, "se" forem necessárias, mas as instituições europeias, entre avanços e recuos, já sentenciaram que a questão é só quando". De pedagogia agressiva, a inevitabilidade passa a chantagem direta.
Mas os "ses" e "quandos" da austeridade exigida por Moscovici não são os únicos que marcam a situação política portuguesa. Aqui ficam alguns outros:
1. Quando a tarifa social da energia for atribuída de forma automática a um milhão de famílias desfavorecidas, este apoio será a maior derrota de sempre para os "donos da energia", que têm metido ao bolso o dinheiro dos descontos não atribuídos a quem mais precisa. Se o lóbi da EDP falhar, teremos uma democracia mais transparente e confiável.
2. Se a UGT insistir num salário mínimo nacional, para 2017, abaixo dos 557 euros assinados por Bloco e PS, muitos trabalhadores tratarão de procurar um sindicato a sério. Quando essa segunda atualização do SMN ocorrer, o ainda líder da UGT, Carlos Silva, deverá regressar ao seu posto no banco mau.
3. Quando o governo tiver percorrido o calvário que o BCE desenhou para o sistema bancário português, o Novo Banco estará retalhado e vendido em bolsa a fundos obscuros. O Estado herdará veículos tóxicos e muita litigância milionária para pagar, deixando a Caixa Geral de Depósitos de porta aberta aos predadores. Se, pelo contrário, o PS escutar as vozes, da esquerda à direita, que condenam esta trajetória de favor à finança espanhola, Portugal pode mobilizar o controlo público bancário a favor do emprego e da economia.
4. Quando o efeito Brexit, o efeito Shangai, o efeito Deutsche Bank, o efeito Turquia, ou qualquer outro efeito, previsto ou imprevisto, trouxer a turbulência à Europa, vai ser preciso tomar decisões em Portugal. Se um acordo é um acordo, essas decisões não serão cortes ou tributação de salários e pensões, nem impostos sobre bens essenciais. Mas o verdadeiro "quando" deste debate foi antes de ontem - quando se assinou um memorando em vez de renegociar a dívida. Esse plano B é cada vez mais inevitável. Sem a renegociação, os Moscovicis aterram e descolam, os governos sucedem-se, mas o país não tem futuro e quem partiu não volta.
Moscovici não quer saber destes "quandos" e "ses", determinados pelas prioridades e pela democracia dos portugueses. Para a Comissão Europeia, se há uma maioria para travar a austeridade, a única questão é quando se pode exterminá-la.
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