O que pouca gente sabe é que não há praticamente nada que distinga aquele espaço dos velhinhos salões de festas dos Bombeiros Voluntários. Ali estão, mais ou menos à nossa disposição, mas sem meios, sem projecto, sem regras...
Na década de 90 o Estado investiu muito - investimos todos - na construção e reconstrução de teatros e cine-teatros espalhados por todo o país. Ainda bem. Os teatros são essenciais à democratização da cultura e o investimento do Estado em cultura não se pode resumir à capital e pouco mais.
Acontece que, depois de construídos os teatros, o Governo entregou-os às autarquias e virou-lhes as costas. Nalgumas cidades - poucas e com mais meios - o esforço de investimento da câmara municipal é tão grande que os teatros são exemplares. Noutras a necessidade de pagar as contas do teatro retirou às autarquias a capacidade para investir na criação artística e nas expressões artísticas amadoras. Noutras ainda os teatros são enormes elefantes brancos e ninguém percebe já porque alguma vez se decidiu construí-los.
Sem dinheiro, sem autonomia, sem equipas, sem projectos a prazo e sem capacidade de apoiar a criação artística, os teatros e cine-teatros construídos nos anos 90 não cumpriram ainda a revolução cultural que prometiam: dotar todo o país de equipamentos capazes de dar à população acesso às mais variadas linguagens artísticas e ser motor do desenvolvimento das artes cénicas - teatro, dança, música, circo...
O Bloco de Esquerda está a trabalhar num projecto lei para a criação da Rede de Teatros e Cine Teatros Portugueses. Em amplo debate com criadores e programadores, tentamos estabelecer regras simples que garantam que os teatros prestam um serviço público, obrigando simultaneamente o Ministério da Cultura a co-financiar esses equipamentos.
Com este projecto afirmamos duas exigências básicas: democracia cultural, porque não há democracia sem acesso a fruição e produção artística, e coesão territorial, porque não há cidadãos nem cidades de primeira e de segunda.
A criação da Rede de Teatros e Cine Teatros Portugueses significa ainda, e pela primeira vez no nosso país, dotar todo o território de equipamentos vocacionados para a criação artística, com capacidade de actuar a prazo e a obrigação de trabalhar com as comunidades onde se inserem. E é um passo de gigante no pensamento sobre território e políticas culturais: dar sentido ao betão investindo em conteúdos.
Nota: Nesta Terça feira, 27 de Abril de 2010, o Bloco de Esquerda realiza uma Audição Parlamentar sobre a Criação da Rede de Teatros e Cine-Teatros, em Lisboa, no Auditório da Casa Amarela da AR, às 11h. Leia o projecto do Bloco