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Marcelo & Marcelo

Marcelo não viu, não ouviu, não falou. Marcelo não conhece, não comenta, não esteve lá. Marcelo, falou e disse, mas de um modo sempre outro, sempre além de aquém. Marcelo não é carne, é espírito. Marcelo não é Marcelo e detesta os dilemas de Hamlet. Marcelo quer serenar, desdramatizar, tranquilizar, domesticar. Marcelo abomina Cavaco, apesar de ser seu conselheiro de Estado. Marcelo sofre de amnésia ao PSD. Marcelo gosta de comer bifanas uma vez por ano na festa do Avante, com boina basca. Marcelo não frequenta a linha, não tem classe, sexo ou etnia. Marcelo é católico de um modo vago. Marcelo aboliu a luta de classes e o conflito social. Marcelo é um fluxo, uma torrente, um frenesim de si mesmo. Marcelo é uma picareta de ideias feitas e um avô para todos os portugueses e todas as portuguesas dos cinco aos noventa e cinco anos. Marcelo vive num aquário chamado TVI. Sorri muito, aprecia livros e leitões, brinca sobre tudo e nada, entretém no vazio dos domingos e esfuma-se à segunda-feira. Marcelo é afeto, paixão, caridade, abraço e beijo. Marcelo é o princípio e o fim. Espelho. Imagem. Simulacro. Feira permanente. Circo infinito.

(Há que lembrar a vida rente ao chão).

Sobre o/a autor(a)

Sociólogo, professor universitário. Doutorado em Sociologia da Cultura e da Educação, coordena, desde maio de 2020, o Instituto de Sociologia da Universidade do Porto.
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