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Cavaco, animal pragmático

Noticia-se que Cavaco se dirigiu a um elitista e obscuro "Conselho da Diáspora", reunido em Cascais, preconizando coisas mirabolantes para os tempos que correm, como completar a união monetária com a união bancária e a união orçamental.

Seguir o núcleo duro da Europa sem pestanejar. Essa nebulosa é, para o próximo reformado de Belém, nem mais nem menos a "realidade". Quem quer que tenha uma visão, ou até uma governação,"ideológica" será sempre derrotado pela sobredita realidade.

Sabe-se da vergonha que o comportamento de Cavaco Silva causa na direita, percebendo que este cabotinismo não cabe já nos tempos atuais. O marcelismo tem outro verniz e pretende fazer esquecer a figura que por lá anda. Mas, contornada a retórica bafienta, ajoelha com a mesma infinita graça ao Tratado Orçamental

Ter uma visão ideológica significa tão simplesmente discordar da ideologia, sim também é ideologia, da austeridade e dos dogmas do Tratado Orçamental e das imposições do euro. Não se vê mais do que isto na custódia belenense. Cavaco diz que quem tem ideologia acaba por se render ao pragmatismo,ou seja à ordem dominante,como servos.

A total abdicação do interesse e da democracia nacional contrasta com a necrologia do mesmo dia: o presidente condecora Alberto João Jardim por "patriotismo", não enerva o susto.

Insultando Varoufakis, expressamente, acrescentou:"a ideologia económica na zona euro só resiste como modo de vida de comentadores, analistas políticos, de articulistas que fazem o deleite de alguns ouvintes, de alguns leitores, em tempo de lazer". A realidade a que se refere Cavaco é a ditadura dos mercados a que se junta o espírito serventuário dos zeladores da ortodoxia da união decadente.

Assim, num golpe parolo, Aníbal acaba com a democracia e as escolhas. Mais do que isso, acaba até com o animal político, reconhecido desde Aristóteles. A essência da pessoa social seria a contribuição para o poder da cidade. Cavaco não, oh não, ele é o animal pragmático. Esse pragmatismo está em causa por todo lado como estão a mostrar as eleições de europeus não tão submissos.

O que é mais caricato, para além da já conhecida indigência intelectual do presidente, é que este tipo de avisos, prédicas de oratória, pretendem ser uma espécie de testamento político do exercitado animal.

Sabe-se da vergonha que este comportamento causa na direita, percebendo que este cabotinismo não cabe já nos tempos atuais. O marcelismo tem outro verniz e pretende fazer esquecer a figura que por lá anda. Mas, contornada a retórica bafienta, ajoelha com a mesma infinita graça ao Tratado Orçamental. A piada dos comentadores nunca foi para o Marcelo.

Sobre o/a autor(a)

Dirigente do Bloco de Esquerda, professor.
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