You are here
Se perdemos tanto, alguém ganhou no Banif
Ficámos este fim de semana pelo menos dois mil milhões de euros mais pobres, apesar de o comunicado seráfico do Banco de Portugal se ter esforçado por apresentar tudo como coisa normal. O Primeiro-ministro assumiu a perda. E o Santander ficou mais rico, bem como eventualmente os beneficiários de alguns jogos bancários dos últimos dias ou semanas no Banif.
Pode ainda acrescentar-se que, na realidade, a tramoia já vem de longe e que foi só por razões políticas que a questão do Banif foi escondida, nos termos de um acordo ou de uma concessão do Governador do Banco de Portugal às conveniências eleitorais de Passos Coelho.
Os erros acumularam-se durante todo o ano, apesar dos claros sinais de alarme: uma extravagante tentativa de receber como acionista a família reinante da Guiné Equatorial, o incumprimento da dívida para com o Estado desde janeiro e, finalmente, a evidência da vulnerabilidade do Banif nos últimos meses, com oito planos de reestruturação do banco rejeitados pelos organismos europeus.
A resposta das autoridades portuguesas foi nenhuma. A administração devia ter sido demitida e o Estado devia ter tomado conta do banco (sendo o acionista a 60%, a coisa seria trivial), mas preferiu-se a inação e o apodrecimento. Tomé e Luís Amado continuaram tranquilamente a explicar ao país o que esperavam que fizéssemos por eles.
Na última semana, tudo piorou. Alguém lançou o boato da liquidação do banco e desencadeou assim a corrida aos depósitos. Se não foi um comprador pretendendo tornar irreversível a pressão sobre os representantes do Estado, foi muito bem imitado. Entretanto, a crise exigiu centenas de milhões de euros de empréstimo de liquidez e o prazo para uma solução não podia ser adiado. Acresce finalmente que, por razões enigmáticas, a CMVM só no fim da semana suspendeu as ações em Bolsa.
Um ano de erros, uma semana de catástrofe.
Vieira Pereira, um cronista conservador e certamente próximo dos pontos de vista de quem tem governado Portugal, escrevia-o com toda a propriedade e algum pesar: a banca é um problema sistémico. Ou nos livramos dele ou continuamos a pagar.
Mas, mesmo esperando medidas de fundo para resolver este problema sistémico de todo o sistema bancário, há perguntas imediatas que esperam resposta.
A primeira, o Governador do Banco de Portugal, depois do BES e do Banif, não tira nenhuma conclusão sobre a degradação da confiança na banca, sob a sua liderança e nestes dois casos com a sua responsabilidade direta?
A segunda, o governo, se entende que é necessário uma nova forma de supervisão e uma nova instituição capaz de proceder à resolução de bancos em risco, que passos vai dar nesse sentido?
A terceira, queremos mesmo submeter Portugal a um regime de resolução que, nos termos da União Bancária, imporá forçosamente a desconfiança permanente dos depositantes?
Artigo publicado em blogues.publico.pt a 21 de dezembro de 2015
Comments
o BE deve votar contra o
o BE deve votar contra
o BE deve votar contra o orçamento rectificativo. o capitalismo é risco: é ter lucros e assumir as perdas. Em Portugal ainda ñ é assim, os detentores do Kapital, qdo lhes corre bem a vida, rogam pragas à regulação pública, q defende o interesse geral, e ñ querem interferência nenhuma do Estado, pois elegem c independência os Conselhos d Administração, para q maximizem os seus lucros. Os lucros metem no respectivo bolso, reinvestindo quase nada, e descapitalizando cada x mais as Empresas. Só investem se tiverem isenções d quase tudo, impostos, TSU...etc, se o Estado facilitar tudo (até a promoção: vide excursões d Cavaco e d PPortas c o empresariado). Em Pt qdo os grandes negócios correm mal, ou a trafulhice é muita: aqui-d'el-rei q venha o Estado ajudar: o papão do risco sistémico, serve sempre para pôr o Zé, q nunca foi ouvido, a pagar.
O risco sistémico está bem à vista, que não é só, a quebra de confiança nos bancos, a progredir como a queda das peças de um dominó. O risco sistémico, é a salvação pelo Estado, de bancos falidos, dar um mau exemplo, para os bancos que ainda não faliram, e que têm a legitima expectativa, de ter a mesma salvação. O risco sistémico, é a salvação pelo Estado, de bancos falidos, comprometer todos os objectivos orçamentais do Estado: do equilibrio orçamental, das provisões para as funções sociais mais básicas e universais, de suporte aos desempregados, e aos pensionistas, de cobertura assistencial universal do serviço nacional de saúde, de acesso, em condições de oportunidade semelhantes, à educação pública ...etc. O risco sistémico, é a salvação pelo Estado, de bancos falidos, comprometer os objectivos orçamentais do Estado, de investimento público contracíclico, e de fomento e financiamento à economia privada concorrencial, geradora de emprego e de maior valor acrescentado
Add new comment