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2015, o ano em que mudou o clima das Alterações Climáticas

2015 foi o ano em que as alterações climáticas definitivamente passaram a fazer parte da agenda pública e política. Mas o desfasamento entre o grande agravamento nas condições gerais do ambiente e a resposta social e política aos mesmos é ainda muito grande.
Marcha da Justiça Climática de Lisboa, realizada em 12 de dezembro de 2015

Em 2015, nos meses de Outubro e Novembro, o planeta passou pela primeira vez dos 1ºC acima da temperatura pré-industrial, ultrapassando todas as previsões dos modelos climáticos até agora desenvolvidos. Foi o ano em que uma vez mais se bateram os recordes de emissões de gases com efeito de estufa, que aliás apenas abrandaram durante a crise financeira de 2007 e 2008, retomando desde então com níveis de crescimento mais acelerados que nunca. 2015 será o ano mais quente de sempre desde que há registos, ultrapassando por muito o ano de 2014 que era, até então, o mais quente de sempre.

Este foi também o ano em que se ultrapassou a barreira das 400 partes por milhão de CO2 na atmosfera, concentração que só pode ser encontrada recuando 800 mil anos. Em Portugal, este foi o ano em que se atribuíram 15 concessões de prospeção e exploração de gás e petróleo em terra (com a ameaça de gás de xisto) e em offshore, no Algarve, Alentejo e na zona centro. A nível internacional, a baixa do preço de petróleo colocou imensa pressão sobre as areias betuminosas e o gás de xisto, pressão que interessa apenas para travar um pouco a barbárie e a destruição selvagem provocada pela exploração dos combustíveis fósseis não convencionais.

A Volkswagen foi apanhada num esquema gigantesco de fraude ambiental, tendo falsificado os seus softwares para indicar emissões de gases com efeito de estufa menos significativas: mais de 11 milhões de viaturas emitem até 40 vezes a quantidade de óxidos nitrosos legalmente permitida, 8 milhões dos quais na Europa (algo de que a Comissão Europeia tinha conhecimento há pelo menos três anos). Esta fraude ocorreu ainda nos carros a gasolina da Volkswagen, e iniciou a exposição de diversas marcas como a Audi, a Opel, a BMW, a Citroen, a Mercedes-Benz e a Porsche, que utilizaram a mesma tática.

Quanto às emissões de CO2, estima-se agora que haja mais um quarto de emissões de gases com efeito de estufa de automóveis ligeiros, já que a diferença entre os testes laboratoriais e a emissão em estrada foi estimada em 50%, uma fraude monumental dada pela indústria automóvel. A COP-21, mais que conseguir qualquer acordo vinculativo ou de reduções de emissões a curto prazo, atirou para a segunda metade do séc. XXI não a descarbonização da economia, mas uma habilidosa neutralidade de carbono, isto é, a possibilidade de manter as emissões, desde que se inventem novos sumidouros de carbono, principalmente florestas industriais ou tecnologias fantasiosas ainda inexistentes.

Apesar de declarar que quer manter a subida da temperatura abaixo dos 1,5ºC, o acordo da COP-21 só apresenta medidas concretas que atirariam a temperatura para os 3ºC de subida, compreendendo um aumento de emissões para a maioria dos países nas próximas décadas. 2015 foi também o ano que viu surgir as primeiras raízes para um movimento global pelo clima e pela justiça climática, que deverá começar a provar em 2015 aquilo que pode conseguir. Este movimento tem pela sua frente possivelmente a tarefa mais importante que a Humanidade já enfrentou.

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Neste dossier:

10 temas de 2015

2015 foi um ano marcado por turbulências várias, por viragens importantes, num tempo de estagnação do capitalismo, de austeridade imposta aos povos, de grande instabilidade política e social e de esperança na mudança. Escolhemos para este dossier 10 temas nacionais e internacionais, com a consciência de que muitos faltam neste ano cheio de acontecimentos significativos.

Espanha: 20D - Final da primeira parte

O 20D mostra um bipartidarismo ferido e quase afundado. Mas o que vem a seguir está ainda em disputa. Continuismo, auto-reforma e rutura são três horizontes que se confrontam entre si sem que nenhum deles tenha ganhado o desenlace a seu favor. Por Josep Maria Antentas

Milhares de refugiados reféns da hipocrisia da UE

Se há imagens que ao longo deste ano ficaram na memória de milhões de pessoas, elas estão relacionadas com o drama dos refugiados que, para fugir da guerra, das perseguições e da miséria extrema, tentaram alcançar a Europa em embarcações sem um mínimo de condições de segurança.

Grécia: entre a espada do Euro e a parede da austeridade

A Grécia iniciou 2015 inspirando-nos com a ideia de que o possível depende da vontade do povo. Com o futuro nas mãos, o novo governo de esquerda iniciou as mais duras negociações com os credores e a Europa autoritária tornou claro que a democracia é o que menos conta. Depois de um terceiro pacote de austeridade e com um segundo governo Syriza, a Grécia continua a negociar o seu destino.

A esperança que renasceu nas eleições de outubro

Os resultados das eleições de outubro permitiram pela primeira vez na história da democracia, estabelecer um acordo parlamentar entre o PS, Bloco, PCP e PEV para recuperar direitos e retomar o crescimento.

2016: O ano do fim das privatizações?

Em 2015, o governo PSD/CDS acelerou os processos de alienação de setores estratégicos, enfrentando a contestação de trabalhadores e movimentos de cidadãos e a oposição frontal do Bloco. O acordo à esquerda prevê a anulação de privatizações em curso e o compromisso de não se iniciarem novas concessões e privatizações de empresas públicas.

Do BES ao Banif

O ano de 2015 continuou a ser marcado pelas crises no sistema financeiro. A comissão parlamentar de inquérito ao BES, os protestos dos lesados do BES, o escândalo do Banif e o problema do Novo Banco foram tema em 2015. Lições, medidas sobre o sistema financeiro e a supervisão continuam a ser tema para 2016.

A temida bandeira do Daesh: ataques reforçam a propaganda sobre o povo do califado. Foto domínio público

Estado Islâmico: a mensagem da força

Controlam um protoestado do tamanho do Reino Unido; demonstram uma invulgar capacidade de realizar atentados terroristas em diferentes países e continentes; pretendem passar uma imagem de força diante de tantos agressores. A verdade é que um ano e meio depois de proclamarem um califado, atacados pelas mais poderosas forças aéreas do mundo, a sua capacidade não diminuiu.  

Rafael Correa, Evo Morales, Néstor Kirchner, Cristina Fernández, Luiz Inácio Lula da Silva, Nicanor Duarte, e Hugo Chávez na cerimónia de assinatura da carta fundadora do Banco do Sul. Foto de Presidencia de la Nación Argentina. Licensed under CC BY 2.0 via Commons

América Latina: O esgotamento de um modelo

Os sintomas do esgotamento de um modelo são a profunda crise política que atinge, no Brasil, Dilma Rousseff, o Partido dos Trabalhadores (PT) e os seus aliados parlamentares, a derrota da aliança entre kichneristas e alguns peronistas na Argentina, e o descalabro de Nicolás Maduro e do seu Partido Socialista Unido de Venezuela. Por Eduardo Gudynas, Brecha.

2015, o ano em que mudou o clima das Alterações Climáticas

2015 foi o ano em que as alterações climáticas definitivamente passaram a fazer parte da agenda pública e política. Mas o desfasamento entre o grande agravamento nas condições gerais do ambiente e a resposta social e política aos mesmos é ainda muito grande.

Comparação entre a Terra e Marte. Foto de NASA's Marshall Space Flight Center:Flickr.jpg

Água líquida em Marte pode indicar presença de vida no planeta

Em 2015 descobriu-se que a superfície de Marte, já foi coberta por um oceano, e que tem atualmente água líquida, num ciclo sazonal. Estas descobertas podem ter implicações para existência de vida no planeta.