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A mentira dos rankings

A disponibilização em bruto dos resultados dos exames e a possibilidade de construção de rankings a partir desses resultados prestam um mau serviço à Educação.

Todos os anos, a ideologia da educação como negócio e reprodução das desigualdades sociais, amplamente dominante na nossa comunicação social, repete a cassete mentirosa dos rankings.

Compara-se o que não pode ser comparado. Ignora-se deliberadamente a caracterização da origem social dos alunos que frequentam as diversas escolas, os rendimentos das famílias.

Os resultados e elaboração de rankings não têm em conta a natureza das instituições listadas. As escolas que apresentam melhores resultados nos rankings são escolas privadas sem contrato de associação com o governo (para efeitos de financiamento) suportadas totalmente pelas famílias dos alunos que as frequentam, o que revela uma origem social, cultural e económica muito elevada relativamente ao padrão médio nacional. São claramente as escolas dos alunos socialmente privilegiados.

As escolas públicas, pelo contrário, têm de fazer a inclusão de todos os alunos, mesmo os socialmente mais desfavorecidos, não podendo funcionar na lógica dos rankings.

A disponibilização em bruto dos resultados dos exames e a possibilidade de construção de rankings a partir desses resultados prestam um mau serviço à Educação, visam atacar de forma despudorada a escola pública.

Deve ser política do Governo pôr termo a esta situação vergonhosa que contribui para o estigmatizar muitas escolas que, em contextos muito adversos, conseguem prestar um serviço público de inestimável importância.

Os rankings podem e devem ser substituídos por uma avaliação externa das escolas justa, eficaz e consequente, tendo em conta o contexto socioeconómico em que se situam, a partir da qual deverão ser estabelecidas as prioridades no apoio a prestar para conseguirem cumprir o seu papel na garantia do direito à educação, consagrado na Constituição da República.

Sobre o/a autor(a)

Professor e historiador.
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