You are here

O movimento social contra as alterações climáticas

A 28 e 29 de novembro realizaram-se protestos à escala planetária, assinalando o início da Cimeira do Clima em Paris, a COP 21.

Em Paris, onde se esperava uma manifestação de mais de 200 mil pessoas, entretanto proibida, foi a declaração de estado de sítio que lançou a cidade em polvorosa, depois de a polícia ter decretado prisão domiciliária para alguns dos principais organizadores dos protestos da Coalition Climat 21. A nível global, mais de 2500 cidades juntaram-se a este protesto, com milhões de manifestantes. Em Portugal, a pacífica Marcha Mundial pelo Clima reuniu alguns milhares de pessoas em oito cidades, e a de Lisboa teve honras de capa no “New York Times” com o título “Não Há Planeta B”. Este protesto é um sinal de esperança para uma temática até agora tecnificada e distante das populações, embora os seus efeitos já sejam evidentes. A constituição de um movimento global pelo clima excede a fronteira dos movimentos ambientalistas. As organizações humanitárias, de apoio ao desenvolvimento, credos religiosos, sindicatos, associações profissionais, agrícolas, alimentares, a todos este assunto toca. Não porque permita avançar pequenas agendas sectoriais, mas porque avança a agenda humana. Da solução ou não da gigantesca crise ambiental que são as alterações climáticas, a espécie definirá como se relaciona com o seu ambiente. A oposição entre ambiente e economia, criada e advogada pelos agentes da economia de extração, de máximo lucro e de desprezo pelos efeitos secundários da atividade produtiva, é falsa. A economia do monopólio, a economia da estandardização, da extração total dos recursos naturais e da comodificação da natureza não está em oposição ao ambiente, está em oposição ao futuro da espécie humana. A todos os que perspetivam que exista um futuro para a nossa espécie exige-se ação. A COP 21 assume à partida a dificuldade de atingir os alvos que a si própria propôs: alcançar uma subida de apenas 2 graus centígrados até 2100. Da conferência deverá sair um acordo para os 3 graus centígrados, aumento catastrófico da temperatura, segundo a Convenção Quadro das Nações Unidas. Muitos assuntos não entraram nas negociações: o complexo industrial-militar, a necessidade de manter 80% das reservas de combustíveis fósseis no solo, a necessidade de planificar a energia. Assim, não será das negociações entre nações e lóbis que sairão as soluções para o futuro da civilização humana. É aqui que entra a sociedade civil. Em Portugal, em plena negociação da Cimeira do Clima COP 21, recebemos o anúncio de que a ENI e a GALP iniciarão perfuração petrolífera ao largo de Sines. Além disso, na Batalha, em Pombal, no Algarve, estão a Australis e a Portfuel a tentar explorar gás de xisto, no mar em Peniche e no Algarve estão a Repsol, a Partex, a RWE, a Petrobras e a Galp, ávidas de furar o fundo. Que sentido tem isto? O nosso futuro tem de passar por não explorar reservas e não por passarmos a ser parte ativa do problema. A 12 de dezembro, em Portugal, realizar-se-á em várias cidades a Marcha pela Justiça Climática, subscrita por académicos como Filipe Duarte Santos, Luísa Schmidt ou João Ferrão, por artistas como Vhils, Sérgio Godinho ou Capicua, pelo bispo D. Januário Torgal Ferreira ou o filósofo Viriato Soromenho Marques, e por dezenas de cidadãos e ativistas. Mostra-nos um novo campo de possibilidades que as alterações climáticas trazem: novos futuros imaginados coletivamente e que nos permitam fazer face a um novo clima, mais duro, mas que exige de nós que sejamos muito mais solidários do que até aqui.

Artigo publicado no jornal “Expresso” de 5 de dezembro de 2015

Sobre o/a autor(a)

Investigador em Alterações Climáticas. Escreve com a grafia anterior ao acordo ortográfico de 1990
Termos relacionados COP21 - Cimeira do Clima
(...)