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Alarme no SNS: Novo governo enfrenta grande desafio
Não há serviços com capacidade formativa em número suficiente devido a terem perdido, nos últimos anos, milhares de médicos especialistas para os privados ou para a reforma.
A situação é gravíssima, o país precisa de especialistas e os médicos não podem ficar sem especialidade
A situação é gravíssima, o país precisa de especialistas e os médicos não podem ficar sem especialidade. É inacreditável que perante esta situação a Ordem dos Médicos esfregue as mãos de contente e, a pretexto da falta de capacidade formativa, venha insistir na redução do número de alunos que todos ao anos entram para as faculdades de medicina. Este corporativismo médico, infelizmente, contagiou os representantes dos estudantes de medicina que também querem baixar o numerus clausus.
Portugal não tem médicos a mais, o problema não pode reduzir-se à comparação com os ratios de médicos/habitantes noutros países europeus. Em Portugal, os médicos estão mal distribuídos quer geograficamente quer por especialidade. Mas serão precisos muitos anos para alcançar um equilíbrio aceitável nessa distribuição. E durante esses anos, reduzir o número de novos médicos a sair das faculdades agravaria ainda mais a carência de médicos.
Além desta desequilibrada distribuição dos médicos portugueses há duas outras razões que contribuem para a falta de especialistas no SNS. A primeira, é a fuga de médicos para os grandes hospitais privados. Ainda esta semana foi anunciada a construção de mais um mega hospital privado em Lisboa do grupo CUF/Mello Saúde. Atualmente a formação de médicos tem de responder às necessidades dos serviços públicos mas também dos privados, necessidades muito superiores às que existiam há uma ou dias décadas atrás. E a segunda, é a facilitação das reformas antecipadas dos médicos perante as quais o ministro Paulo Macedo cruzou os braços.
A fuga de médicos para o privados ou para a reforma e a proliferação desmedida de grandes hospitais privados estão a condenar o SNS
A fuga de médicos para o privados ou para a reforma e a proliferação desmedida de grandes hospitais privados estão a condenar o SNS. A solução não está em reduzir o número de médicos, de especialistas em formação ou de estudantes de medicina, como pretendem a OM e as associações estudantis.
O caminho é promover o regresso ao SNS dos médicos que anteciparam a reforma, dificultar a antecipação da reforma, reforçar as condições de formação de especialistas no SNS e impor uma moratória à construção de novos hospitais privados. E, claro, melhorar as condições de trabalho no SNS.
Sem dúvida, um grande desafio para o novo governo. Mas, também, uma oportunidade de se distinguir do anterior.
Comments
Muito certo.
Muito certo.
Análise generalizável a todo o aparelho de estado, desmantelado pelo governo PSD/CDS. Diversos domínios científicos contam com poucos especialistas portugueses. Muitos destes são praticamente únicos, a sua interacção profissional apenas é possível com estrangeiros: a dimensão do país não justifica a formação de equipas numerosas. Necessariamente, quase todos, senão todos, trabalham em instituições do Estado (universidades ou outras).
Quando surge um governo para quem os funcionários públicos são apenas números e cuja convicção é "há que reduzi-los" (começou dramaticamente com os governos de Sócrates, mas atingiu o paroxismo com os de PPC), é óbvio que fica de fora essa perspectiva de preservar a capacidade de formação de novos especialistas de forma a pelo menos assegurar a resposta às necessidades permanentes do país.
Na saúde, este malefício do governo da direita nota-se mais, porque morre gente. Mas nos outros campos do conhecimento, o resultado é o empobrecimento generelizado - ou menos capacidades para retomar a via do progresso social.
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