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“Um Presidente não pode substituir-se à Assembleia da República”

“A política não tem de ser a continuidade daquilo que sempre foi, há espaço para novas alianças, nomeadamente as geracionais”, afirmou Marisa Matias, referindo-se ao resultado das legislativas e ao momento de esperança que se vive no país após quatro anos de destruição da economia e dos laços sociais. “Este é o tempo de lançar sementes e correr os riscos. Eu nunca fui de me pôr em bicos de pés, mas também não sou de ficar a assistir. Se achamos que podemos contribuir para uma forma diferente de fazer as coisas, não podemos ter medo”, declarou a candidata à Presidência da República apoiada pelo Bloco de Esquerda.
Nesta entrevista à Económico TV, Marisa Matias fala de episódios da sua vida, desde a infância na aldeia perto de Coimbra, a passagem pela universidade e os movimentos cívicos em que participou, ou o trabalho de campo no Brasil, Estados Unidos e África do Sul para o doutoramento em saúde ambiental, até à eleição para o Parlamento Europeu e para a vice-presidência do Partido da Esquerda Europeia.
A militância no Bloco de Esquerda, partido que representa no Parlamento Europeu desde 2009, ocupa boa parte desta entrevista, onde o atual momento político também tem destaque. “O momento que vivemos atualmente é um momento de esperança. Não sei como vai terminar este processo, mas tenho a perceção de que algo está a mudar e a reconfigurar-se na sociedade portuguesa, que traz uma carga positiva de luta pela dignidade no país”, afirma a candidata às próximas eleições presidenciais.
Discurso de Cavaco “expulsou um milhão de portugueses da democracia”
“Um Presidente da República não deve substituir-se nem aos partidos nem à Assembleia da República”, defendeu Marisa Matias, reafirmando que o discurso de Cavaco Silva quando indigitou Passos Coelho “expulsou um milhão de portugueses da democracia”.
Marisa Matias falou ainda das transformações na Europa, que ficaram bem visíveis na forma como a Grécia foi tratada após a eleição do Syriza em janeiro. “O que se passou naquela noite de negociações em Bruxelas [após o referendo grego de julho] não foi uma negociação, foi quase uma tortura”, afirmou a eurodeputada, concluindo que “hoje em dia já ninguém pode dizer que as instituições europeias são um grupo de gente de boa-fé que quer fazer bem à Europa. A Europa mudou muito. Isso eu sei, porque acompanhei essa mudança nos últimos anos”, afirmou.
“O povo grego deu-nos uma lição enorme de dignidade. Revejo-me na luta que foi travada e no esforço real que foi feito pelo governo grego para tentar dar um futuro melhor ao seu país. O resultado final não foi um bom acordo, mas isso não sou eu que o digo, é o próprio primeiro-ministro grego…”, prosseguiu Marisa Matias.
Marisa Matias contesta a ideia repetida pelas lideranças europeias que divide a UE entre “os virtuosos do norte e os preguiçosos do sul”. Questionada sobre se Durão Barroso assumiu o papel de árbitro à frente da Comissão, Marisa responde: “Se foi árbitro, Durão Barroso torceu sempre pela equipa que tinha mais poder”.
“Há um vazio de representação feminina na política”
A participação das mulheres na política foi outro dos temas abordados, com Marisa matias a chamar a atenção para “um vazio de representação” feminina na política portuguesa. A prová-lo está o facto de “em 41 anos de democracia em Portugal nós tenhamos só um nome de uma mulher a destacar, o de Maria de Lourdes Pintasilgo”, única primeira-ministra e candidata às presidenciais da hstória da democracia portuguesa.
“Não é aceitável que metade da sociedade não se possa representar e tenha de estar representada pela outra metade. Se a sociedade é composta em mais de metade por mulheres. Porque é que os altos cargos têm de ser invariavelmente exercidos por homens?”, questionou.
Marisa Matias no "Conversas com Vida" do ETV
Posted by Esquerda Net on Sexta-feira, 30 de Outubro de 2015
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