Nuno Pinheiro

Nuno Pinheiro

Investigador de CIES/IUL

Há um discurso estranho, mas que hoje se encontra facilmente, e em que se pretende justificar a extrema-direita, é o ver Portugal de hoje, como decadente em relação aos tempos da ditadura. Passam 50 anos sobre o 25 de abril, altura de perceber se existe algum fundamento para esse discurso.

Ninguém tem dúvidas de que o ano que agora começa será marcado por novas lutas. O pior que pode acontecer, para o sistema educativo, é o ministério levar a sua avante e não ceder minimamente às reivindicações dos docentes.

Ensinar o que está adequado aos exames, parece disparatado, mas é o que acontece, embora os resultados deixem muito a desejar. O Ensino Secundário melhoraria baixando a pressão dos exames e da entrada na universidade.

Na discussão atual sobre a guerra da Ucrânia tem vindo a debate a existência ou não de um Imperialismo Russo, sendo esta uma das razões que justifica posições diferentes.

Sou da geração que fez greve contra os exames, na altura achávamos que os exames eram um péssimo método de avaliação, mas, em contrapartida, um ótimo meio de seleção social. Hoje sei mais, e continuo a achar o mesmo.

Belicista, colonialista, decadentista, virado para o passado, o Hino tem um concentrado daquilo que Portugal já não é, ou já devia não ser. Podia (devia) ter sido mudado em 1974, quando Portugal se libertou (e libertou) das colónias.

A forma como os moradores do 2º Torrão têm sido tratados é inaceitável. Acabar com a herança do colonialismo começa por tratar estas pessoas com a dignidade que merecem, com os direitos que têm e que não são diferentes dos meus, dos nossos, ou dos da Presidente da Câmara.

A República Popular de Almada era uma espécie de piada às tradições de luta do maior concelho da Margem Sul e que, ao mesmo tempo está próximo e distante do Terreiro do Paço.

Este torrão não é de açúcar, esta história ainda não tem um final feliz, nem uma família foi realojada em condições aceitáveis. Mesmo que houvesse boas soluções para estas dezenas de pessoas, continua a haver milhares, naquele torrão esquecido.

Uma verdadeira reforma da administração pública significaria além de um Simplex que muitas vezes complica a vida dos cidadãos, a despartidarização de chefias e serviços, uma revisão dos modelos hierárquicos e de avaliação, além de uma revisão de carreiras.