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É tempo de voltar à rua

Não será tempo das cidadãs e dos cidadãos começarem a dizer nas ruas que não querem a direita no Governo?

Nas eleições de 4 de outubro a direita perdeu a maioria absoluta no parlamento, mas a coligação de direita foi a força mais votada. Abre-se assim um período de maior disputa política na sociedade portuguesa. Disputa política sobretudo em relação à austeridade e ao programa da troika, que tem sido imposto desde 2011, embora sem conseguir alcançar todos os cortes e ataques, a quem trabalha e ao Estado Social, que pretendia, devido à resistência social e política da esquerda, dos movimentos sociais e do povo português.

No novo quadro, tanto o Bloco de Esquerda como o PCP deixaram claro que tudo farão para afastar a direita do governo e dispuseram-se a debater com o PS as condições para viabilizar um governo estável alternativo à direita. Catarina Martins afirmou, em 5 de outubro de 2015: “É possível criar uma solução de Governo (alternativa à direita) com estabilidade”.

No entanto, o afastamento da direita do governo depende do Partido Socialista. E, na última semana, têm sido muitas as vozes que apelam ao consenso com a coligação de direita, ao respeito do programa único da comissão europeia, da troika e da direita europeia e dos partidos socialistas europeus. Igualmente o Presidente da República tudo faz para manter PSD e CDS no governo.

Bloco de Esquerda e PCP, com as suas posições e iniciativas políticas, estão a fazer bem o que é necessário para afastar a direita e o seu programa recessivo do Governo. Mas a questão diz respeito a todas as cidadãs e todos os cidadãos. Diz respeito à maioria da população que não quer a continuação da direita no governo e da política de austeridade. Como poderá expressar-se essa vontade?

A CGTP, após as eleições, afirmou que “o dia 4 de Outubro confirmou que vale a pena lutar”, convocou a sua direção e um plenário de sindicatos, para os próximos dias 14 e 15 de outubro, para “perspectivar a intensificação da luta reivindicativa nos locais de trabalho da Administração Pública, do sector empresarial do Estado e do sector privado” e exortou trabalhadores e trabalhadoras a “prosseguir e intensificar a luta nos locais de trabalho em torno das suas reivindicações específicas”.

Penso que a central sindical tem razão e aponta para a cidadania fazer ouvir as suas reivindicações. E porque não a rua? E porque não desde já? Sabe-se que, normalmente, os movimentos começam pequenos, que as mobilizações crescem com a ação. Não será tempo de cidadãs e cidadãos começarem a dizer nas ruas que não querem a direita no Governo?

Os próximos tempos serão de agudização da disputa política na sociedade portuguesa. Seja qual for o governo que tenhamos, a direita vai querer prosseguir as políticas de austeridade e a União Europeia irá pressionar fortemente para o prosseguimento da política de cortes em salários, pensões, direitos e Estado Social. A direita pode mesmo tentar fazer mobilizações de rua em defesa da sua nefasta política.

Na minha opinião, a esquerda tem de se preparar para uma conflitualidade de grandes dimensões na sociedade portuguesa. É tempo da cidadania fazer ouvir a sua voz nas ruas. É tempo dos movimentos sociais lutarem ativamente pelas suas agendas. Não podemos esquecer o que aprendemos com o 25 de Abril: “É o povo quem mais ordena!”

Sobre o/a autor(a)

Editor do esquerda.net Ativista do Bloco de Esquerda.
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