Num email enviado a todos os estudantes do estabelecimento de ensino, o diretor da Faculdade de Ciência Sociais e Humanas da Universidade Nova escreve que “multiplicaram-se atividades que ultrapassaram os limites do civismo e do bom gosto”, aconselhando os recém chegados a “ignorar aqueles que acham que a Faculdade é um espaço para humilhação”.
Também a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa endereçou aos novos alunos uma mensagem na qual frisa que “não se revê em actividades ditas ‘de acolhimento’ que configuram noções e práticas contrárias à sua matriz”.
“Práticas que, à luz de uma apelidada ‘tradição’ – que nunca existiu, designadamente na Universidade de Lisboa –, se baseiam em princípios de obediência acrítica a uma suposta autoridade, de legitimidade obscura numa sociedade democrática”, acrescenta a FLUL, lembrando que estas “se expressam em comportamentos que vão desde a infantilização dos estudantes recém-chegados, incorporados em grupos inorgânicos, a atitudes, no mínimo, atentatórias da dignidade pessoal”.
Segundo a professora da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e investigadora do Centro de Estudos Sociais, Catarina Martins, as práticas “são cada vez mais intensas, com grande consumo de álcool, o que aumenta a agressividade das práticas e reduz a capacidade dos caloiros dizerem não”.
“Muitos casos são de verdadeira agressão sexual”, alerta, lembrando que há uma “regra de praxe não inscrita nos códigos” em que um novo estudante não é verdadeiramente um estudante se não tiver relações sexuais com outro até à queima das fitas, que se celebra em maio. “Há relatos de uma violação em grupo de uma estudante num jardim e de outros abusos. Simplesmente não são denunciados por vergonha e medo”, acrescenta.
Catarina Martins defende que as praxes sejam totalmente proibidas e passem a ser um crime público.