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Os três milagres da direita

Para PSD/CDS/PAF-, a realidade não conta. Apresentam-se a um país de Alice, interpretado por dados “meramente estatísticos” que são duros de roer num país que voltou a passar fome. Resta-lhes, por isso, apregoar milagres e apelar à fé.

O incrível aconteceu. Depois de quatro anos a destruir o país, a direita escolheu para discurso de campanha a narrativa salvadora. Como se o último mandato fosse uma memória distante, como se não tivéssemos sentido na pele o que corta a austeridade, como se o que nos condenou nos pudesse salvar.

Para eles - PSD/CDS/PAF-, a realidade não conta. Apresentam-se a um país de Alice, interpretado por dados “meramente estatísticos” que são duros de roer num país que voltou a passar fome. Resta-lhes, por isso, apregoar milagres e apelar à fé. Mas quais são, de facto, os milagres deste governo?

1. Milagre económico em curso

O primeiro milagre foi anunciado no final de 2013 pela boca do Ministro Pires de Lima. Foi chamado de “milagre económico em curso”, embora também ficasse conhecido pela célebre frase “o país está melhor”.

A luz para tal revelação terá eventualmente surgido das palavras de Cavaco Silva que, meses antes, agradeceu à inspiração de Nossa Senhora de Fátima o encerramento da sétima avaliação da Troika.

O que é certo é que, meses mais tarde, esta revelação acabou por ser retificada (qualquer semelhança com o orçamento de estado não é coincidência) por Luís Montenegro. Afinal, era só o país que estava melhor, a vida das pessoas é que não.

Ficamos então a saber que o primeiro milagre era, na verdade, um meio milagre: as pessoas vivem pior, o PIB recuou décadas, há meio milhão de desempregados sem apoio, 85% do emprego criado é precário, o salário desceu em média 300 euros, a pobreza atingiu 20% da população e meio milhão precisa de ajuda alimentar. No entanto, e é essa a metade do milagre que conta, as contas (défice) estão em ordem e por isso “o país está melhor”.

2. Milagre da multiplicação do défice

Para meio milagre o primeiro já era fraquinho. Mas surgiu então o segundo: o “milagre da multiplicação do défice”. Este já não veio por inspiração de Nossa Senhora, mas (como deve ser) por obra e graça do Espírito Santo, com a ajuda do pai (Cavaco) e do filho (Passos Coelho).

A origem deste milagre é muito mais fácil de compreender: foi a fé nos mercados e a devoção aos bancos. Em nome da redução do défice cortaram salários e pensões, mandaram emigrar centenas de milhar de pessoas e privatizaram quase tudo o que havia para privatizar.

Até que o Banco, que era Santo, faliu. E o Estado injetou 3,9 mil milhões no Novo Banco. Assim, “PAF”, deu-se o milagre: o défice de 2014 voltou aos níveis de 2011. O banco novo que era conhecido pelas velhas mentiras ficou também conhecido pelo velho défice.

Mas, como se o défice de 2014 tivesse ficado bem tratado, saíram os números que provam o descontrolo do défice de 2015 e anunciam a necessidade da direita recorrer a um novo milagre.

3. Milagre da multiplicação da austeridade

Já poderão imaginar o milagre por anunciar: o já conhecido e pouco virtuoso milagre da multiplicação da austeridade. Sabendo que o défice está longe da meta exigida e prometida para 2015, o milagre está na cara, basta esperar que Maria Luís Albuquerque o venha anunciar debaixo de uma oliveira.

Estes são os três milagres de uma política falhada. E os três acabam da mesma forma: austeridade, sacrifícios, pobreza.

Porque o país já não aguenta milagres destes, está na hora de voltar à realidade. E por isso o Bloco apresenta a estas eleições ideias de coragem e gente de verdade. Porque não vivemos num país de Alice, mas num país onde queremos que todas as Alices tenham futuro.

Sobre o/a autor(a)

Deputada e dirigente do Bloco de Esquerda, licenciada em relações internacionais.
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