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A direita está a fazer campanha noutro país
A caravana da coligação “Portugal à Frente” vai deambulando pelo país, de norte a sul, por entre comícios, visitas e jantares, ao som da música de sempre.
Por mais que a banda sofra pequenos ajustes na composição, reportório e ritmo não escapam ao alinhamento ensaiado para a tournée. O “país está melhor” é o grande hit. A dupla Passos Coelho e Paulos Portas não abdica dele em paragem alguma.
Para alimentar a aura e o espírito do conjunto, foram aconselhados a optar por uma simbiose entre o tradicional e o inovador – como está in nas zonas urbanas deste “país à beira-mar plantado”. E nada melhor que uma espécie de sebastianismo invertido: sem nós o futuro do país esvai-se na nebulosa manhã de 5 de outubro.
O ensaio é notório. Não fosse o grosso do público a que se pretendem dirigir estar farto dos discos, que, afinal de contas, já tocam há demasiado tempo, e a jornada seria um sucesso. Por mais que insistam, a realidade teima em contar o contrário.
Portugal não está melhor, as pessoas estão visivelmente pior e o governo, se salvou alguém, não foi o grosso da população portuguesa. O discurso da coligação de direita é um embuste, e chega mesmo a ser ofensivo para aqueles que sofrem com os efeitos da elevada dose de austeridade aplicada.
Nos últimos quatro anos, registaram-se níveis de emigração só comparáveis com os tempos em que de Portugal se fugia da guerra colonial e da ditadura. O PIB recuou 15 anos, o desemprego real está nos 25%, o rendimento médio real na função pública desceu 22% e no setor privado 11%, os pensionistas perderam 25% dos seus rendimentos, a maioria dos novos empregos são precários, a pobreza e a exclusão social passaram a afetar mais de 2 milhões de pessoas e a dívida pública – justificação para todo o rolo compressor social – disparou de 108,2% para 129,6%.
O país está melhor para quem? A direita só pode estar a fazer campanha noutro país.
Artigo publicado em sabado.pt em 22 de setembro de 2015
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