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“Alguém avise a direita que já não estamos em 1940”

Num jantar comício em Lisboa, Catarina Martins respondeu aos discursos de Coelho e Portas sobre as mulheres e anunciou que a primeira iniciativa do Bloco no próximo parlamento será “fazer a lei do aborto respeitar o sentido do referendo, rasgando a indecorosa lei aprovada à pressa pela direita”.
Foto Paulete Matos

Catarina Martins encerrou o jantar comício na Cantina Velha da Universidade de Lisboa, destacando a renovação das listas do Bloco "em idade, género, e sem perder experiência, combatividade e capacidade de proposta". ”Parece que o destaque que as mulheres têm nas listas do Bloco se tornou um dos temas desta campanha", disse a porta-voz do Bloco, defendendo que "isso mostra bem o quanto ainda nos falta andar" ao fim de 40 anos de democracia.

“No Bloco de Esquerda e na democracia portuguesa, as mulheres vieram para ficar”, garantiu Catarina Martins, criticando os discursos recentes da coligação de direita sobre as mulheres. “Parece que para Paulo Portas e Passos Coelho, mulher que é mulher é quem sabe das contas da casa, cuida dos jovens e dos velhos, e a sua finalidade maior é ter filhos”. “Alguém avise a direita, que pelos vistos ainda não perceberam, que já não estamos em 1940 ou 1950”, apelou Catarina Martins, antes de declarar um compromisso: a primeira iniciativa parlamentar do Bloco será “fazer a lei do aborto respeitar o sentido do referendo, rasgando a indecorosa lei aprovada à pressa pela direita” para aumentar os entraves à realização de IVG nos hospitais públicos.

Jantar/comício na Cantina Velha da Universidade de Lisboa. Foto Paulete Matos

Catarina Martins falou ainda das “mentiras recicladas” da coligação PSD/CDS no início de campanha: "Já conhecemos o truque das eleições de 2011 e todos sabemos o que é que acontece mal a campanha acaba. Só se deixa enganar quem quer". E em seguida registou que “a Segurança Social é o buraco negro desta campanha”, com a direita a esconder a proposta de “privatização de parte das reformas no casino da bolsa” e o PS a “não querer conversar com quem o avisa que cortar os rendimentos dos reformados não é alternativa a cortar as reformas”.

Do lado do Bloco, a campanha terá “propostas tão profundamente radicais em Portugal como a que diz que quem trabalha deve ter direito a salário e a contrato”. “É possível fazer diferente, com contas certas e acertando contas, indo buscar o dinheiro a quem não tem pago e acabando com esta sangria dos recursos do país. É preciso mudar a política fiscal e é preciso renegociar a dívida. As propostas do Bloco são claras e respondem ao que é essencial para romper com a austeridade” e recuperar salários e pensões, concluiu a porta-voz do Bloco.

Mariana Mortágua: “A estabilidade das agências de rating é a dos negócios do bloco central”

Mariana Mortágua comentou a decisão da agência de rating Standard & Poor’s sobre a dívida portuguesa, a poucas semanas das eleições, ao dizer que está confiante em que as políticas de consolidação orçamental continuarão em Portugal quer ganhe o PS ou o PSD. “A S&P tirou o rating da República portuguesa do lixo tóxico e fez-lhe um upgrade: agora é só lixo”, disse a cabeça de lista do Bloco por Lisboa. “No Bloco temos memória e sabemos bem quem são, quando em 2007 classificaram lixo como luxo e ganharam milhões à conta disso”, lembrou Mariana Mortágua, prosseguindo com o papel destas agências de rating na especulação com as dívidas dos países periféricas. “Queremos aqui dizer à agência de rating que não vos reconhecemos legitimidade para avaliar o nosso país” nem para fazer interferências na nossa democracia, declarou.

Mariana Mortágua. Foto Paulete Matos

“Que prémio é este que a agência de rating vem dar ao governo?”, questionou em seguida Mariana Mortágua, antes de passar em revista várias hipóteses: será pela “saúde do sistema financeiro” enquanto o buraco do Novo Banco aumenta?; será pela "consolidação orçamental” numa altura em que a dívida dispara e o défice do ano passado será igual ao de 2012, justamente por causa do Novo Banco? Ou será pela “transparência e a seriedade” dos negócios do governo, quando a venda da TAP “é uma farsa” que vai contra as regras da UE e ninguém sabe as condições dos ajustes diretos dos transportes do Porto?

Mariana Mortágua sublinhou ainda que foi o Bloco a tomar a iniciativa de ir ao Tribunal Constitucional para resgatar os salários e pensões e criticou o falso discurso da “estabilidade” que só produz desemprego, precariedade e emigração. “A estabilidade que esta agência de rating defende é a estabilidade do negócio que só o bloco central pode garantir. O que a S&P quer é o conforto de saber que nenhuma proposta do Bloco para disciplinar a banca e os interesses económicos sairá da gaveta enquanto for o bloco central a governar este país”, concluiu.

Pedro Filipe Soares: “Não estamos condenados a ficar com estes empatas”

O segundo candidato do Bloco na lista de Lisboa criticou o “tom futebolístico” do tratamento dos debates entre António Costa e Passos Coelho, que afunila o debate numa bipolarização “em que a democracia fica a perder”. Destes debates, conclui Pedro Filipe Soares, ficou a certeza de que a suposta “alternativa entre os dois é alternância: Costa quer cortar. E Passos quer cortar ainda mais”, resumiu, dando os exemplos das medidas que propõem para a Segurança Social, os salários e o IRS.

Pedro Filipe Soares. Foto Paulete Matos

“Não há alternativa entre cortar e cortar mais um pouco. A verdadeira alternativa não é entre a escolha da austeridade ou da austeridade, é entre a austeridade e a solidariedade e dignidade, e essa é a alternativa do Bloco de Esquerda”, prosseguiu Pedro Filipe Soares, apelando à rejeição do clima de bipolarização criado pelas sondagens que falam em empate entre PS e PSD.

“Os empatas estão empatados e por isso dizem que temos de decidir entre eles para os desempatar”, isto depois de “nos empatarem tanto a vida ao longo dos últimos anos”. “Não estamos condenados a ficar com estes empatas”, concluiu Pedro Filipe Soares, apelando ao voto no Bloco de Esquerda para quem queira uma verdadeira alternativa à continuação das políticas dos “empatas”. Pedro Filipe Soares referiu-se ainda ao “descaramento” do vice-presidente da bancada parlamentar do PSD, Carlos Abreu Amorim, que em 2012 assinou uma carta ao diretor regional de Educação do Norte a propor uma direção do mega-agrupamento de escolas de Monção com elementos próximos do PSD, num claro exemplo de abuso e ingerência política nos assuntos da comunidade escolar.

Jorge Falcato: “Direitos humanos não são regalias”

A intervenção de abertura coube a Jorge Falcato, ativista pelos direitos das pessoas com deficiência e quinto candidato na lista do Bloco por Lisboa. Falcato começou por dizer que aceitou o desafio como “uma oportunidade de tornar visíveis cidadãos considerados de segunda” e de levar ao parlamento a bandeira da lei pela vida independente, bem como a oposição a qualquer governo que, “o arrepio das recomendações europeias, privilegie a institucionalização em vez de garantirem as condições para o exercício da democracia plena”.

Jorge Falcato. Foto Paulete Matos

“Não podemos aceitar que uma pessoa que tenha uma incapacidade que a torna dependente de terceiros seja obrigada ir para um lar residencial a dezenas de quilómetros de casa, a quem o Estado oferece 950 euros por utente internado e a quem o lar ainda cobra até 85% dos seus rendimentos. Essa verba seria suficiente para continuar na sua casa, junto da família e dos amigos. É tempo de implementar em Portugal uma política de vida independente em que estas pessoas possam ser donas das suas vidas”, defendeu Falcato, propondo pagamentos diretos do Estado à pessoa com deficiência “para que possa contratar a assistência pessoal para as suas necessidades concretas, como em muitos países europeus”. Atualmente, as famílias em que um dos membros tem de prescindir do salário para ficar em casa a cuidar de uma criança deficiente, “são compensados pelo Estado português com uma esmola de 88 euros mensais”.

Jorge Falcato defendeu ainda a convergência com o salário mínimo das “pensões miseráveis de 150 a 200 euros” de muitos cidadãos “presos a uma cama 24 horas por dia, por não terem quem os levante”. Entre as pessoas com deficiências encontram-se “os mais pobres dos pobres, os que mais sofreram com as políticas de austeridade que nos impuseram, são segregados, excluídos, discriminados pela sociedade apenas por serem diferentes”, prosseguiu Jorge Falcato, lembrando também os trabalhadores, “muitos deles qualificados, que não arranjam emprego devido aos preconceitos existentes”, enquanto “se aguarda pela regulamentação das quotas de emprego nas empresas privadas, previstas na lei há 13 anos, e se arranjam artimanhas para não cumprir as quotas obrigatórias nos concursos de admissão à função pública”.

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