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Turquia: Apelo urgente a ação internacional para travar violência contra povo curdo
No documento, o Partido Democrático do Povo (HDP), que nas últimas eleições legislativas atingiu mais de 14 por cento e elegeu 79 deputados, refere que a população civil curda tornou-se alvo das forças estatais da Turquia e frisa que o HDP também tem vindo a ser atacado por porta-vozes do Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP) e meios de comunicação pró-AKP, que apelam a uma guerra contra o partido.
O Esquerda.net transcreve na íntegra, o “Apelo urgente para uma ação internacional” do HDP:
“Apelo urgente para uma ação internacional
A Turquia deriva cada vez mais para uma guerra civil. As políticas de violência têm aumentado após as eleições legislativas de 7 de junho, lideradas pelo governo provisório do AKP. Hoje, a paz e o processo de negociação entre PKK e o Estado turco chegou a um impasse e a guerra começou de novo.
Apenas no mês passado, ocorreram graves confrontos em várias cidades curdas como Silopi, Lice, Şemdinli, Silvan, Yüksekova e Cizre onde a população civil tornou-se alvo das forças estatais. Dezenas de civis, guerrilheiros e membros das forças de segurança estatais morreram nos confrontos que se seguiram. Desde 24 de julho, o governo interino do AKP não tem atacado o ISIS, como afirma estar a fazer, mas sim as montanhas Qandil no território do Governo Regional do Curdistão, assim como os curdos, as forças democráticas, a política democrática, civis, mulheres e a oposição como um todo na Turquia.
O Estado turco e o governo provisório do AKP estão a implementar todo o tipo de medidas opressivas, como proibir a entrada e saída das cidades curdas contra as quais lança operações militares, cortar todas as comunicações, incluindo as linhas de telefone e internet, bloquear imprensa e observadores para impedir que a verdade sobre o que está a acontecer no terreno chegue à atenção do público nacional e internacional. A província de Cizre, onde 21 civis foram mortos, está sujeita a um recolher obrigatório há uma semana. Na província de Cizre, que está sitiada há dias, há uma grave escassez de alimentos, água, acesso a serviços básicos de saúde, tratamento preventivo dos feridos e sepultamento dos que foram mortos pelas forças de segurança do Estado. Membros eleitos do parlamento e organizações da sociedade civil expressam preocupações graves quanto aos temores de massacre de civis em Cizre.
Nesta situação muito violenta, o HDP também tem vindo a ser atacado por porta-vozes do AKP e meios de comunicação pró-AKP. Quase todos os dias, os funcionários do partido e, especialmente, os nossos copresidentes são alvos para os "nacionalistas e patrióticos". Na suas intervenções, os representantes do AKP apelam a uma guerra contra o HDP. Como resultado desse discurso violento do AKP, muitos dos nossos edifícios em várias cidades foram atacados por grupos de pessoas associadas a grupos racistas e fascistas. A 8 de setembro, atacaram a nossa sede em Ankara, incendiando o edifício. Os arquivos e registos do partido foram atacados especificamente. Ninguém ficou ferido no ataque, mas a nossa sede está agora fortemente danificada e indisponível para uso.
Até agora, mais de 128 edifícios do partido em todo o país foram atacados. Além disso, as forças policiais e outras forças de segurança do estado não estão a fazer o seu trabalho para evitar os ataques.
Queremos, mais uma vez, enfatizar que o HDP não é uma parte destas políticas baseadas e orientadas para a violência. Como HDP, não participámos em nenhum processo de decisão da guerra. Pelo contrário, estamos a tentar pressionar tanto o PKK como o Estado turco para acabar com este conflito armado. Convém clarificar que é o AKP que insiste na política de guerra e implementa práticas antidemocráticas em todo o país.
Apesar destes desenvolvimentos adversos, apelamos à solidariedade e apoio de todas as comunidades internacionais, organizações da sociedade civil e meios de comunicação internacionais para garantir um cessar-fogo imediato e o início de negociações de paz. Apelamos também a uma acção urgente contra a crescente violência do Estado, a violação dos direitos humanos e práticas e medidas anti-democráticas em cidades curdas, bem como nas cidades das regiões ocidentais do país. Precisamos neste momento do apoio da opinião pública internacional mais do que nunca, por forma a alcançar uma paz duradoura no Médio Oriente, Turquia e Curdistão. Neste contexto, convidamos todos os nossos amigos, partidos políticos, associações, redes, organizações da sociedade civil e todas as forças amantes da paz para agir em solidariedade connosco. Apelamos a que todas as instituições e forças internacionais democráticas tomem medidas concretas contra as ações violentas e anti-democráticas do Estado turco contra o seu próprio povo e cidadãos.
Comissão dos Assuntos Externos do HDP”
Tradução de Mariana Carneiro para o Esquerda.net
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O Estado Turco
Boas Noites,
O Estado Turco tem uma tradição histórica que todos conhecemos: despotismo, imperialismo, subjugação de outros povos, desrespeito e liquidação de minorias, autoritarismo, belicismo. Situação que não mudou muito desde o fim do Império Otomano. No entanto, há um dado novo, nos últimos anos, que tornou a realidade política da Turquia ainda pior. É que desde que Erdogan e Davutoglu tomaram as rédeas do partido AKP, a Turquia deixou de ser um Estado autocrático (mas secular), para se tornar um Estado autocrático (mas agora confessional). Ou seja, este passou de um Estado laico para uma teocracia.
Na verdade, tanto Erdogan (PR) como Davuglatu (PM e ex-MNE) são assumidamente neo-otomanos (!) e pan-islamitas. São 2 ultra-conservadores sunitas que têm (a meu ver) objectivos expansionistas em termos territoriais e uma visão próxima da Irmandade Muçulmana, agora proibida no Egipto, uma vez que defendem uma espécie de grande califado que não inclua os países xiitas.
No 1º caso (expansionismo territorial) a imprensa turca mais nacionalista dá como adquirido que a zona NO da Síria, onde se situam as cidades de Aleppo, Idlib e Latakia será a 82ª província da Turquia. Por isso pretendem criar uma zona-tampão nessa região e estacionar lá as suas tropas. A ideia será uma repetição do que fizeram em Chipre, há algumas décadas: a pretexto de defender minorias turcófonas, estabelecem as suas tropas na região pretendida e depois nunca mais de lá saem. O azar deles é que ainda não vi um país que concorde com este estratagema. Mas, as pretensões territoriais do Estado Turco não se ficarão por aí. A Zona N e NE da Síria bem como o N do Iraque também estará sob a mira do (novo) imperialismo Turcomano. Neste caso devido ao gás natural e petróleo existente nessas zonas. Ora conforme todos sabemos essas regiões são habitadas pela martirizada minoria Curda que entretanto está mais unida e equipada militarmente do que nunca, Situação que colocou um governo de Erdogan furioso. Um 3ª ponto de expansionismo poderão ser algumas ilhas do Mar Egeu que pertencem à Grécia, mas estão junto à costa Turca. Um exemplo serão as ilhas de Lesbos e Cos. Convém relembrar que a Turquia perdeu estas ilhas para Hellas com o Tratado de Versalhes, em 1919. No entanto, os sectores mais tradicionalistas e nacionalistas deste país nunca ficaram conformados com isso... Eu estou mesmo convencido que o actual Estado Turco tem pretensões soberanistas sobre essas ilhas, até porque há notícias (confirmadas) de importantes reservas petrolíferas nas areias do Mar Egeu. Além de que estão permanentemente a queixar-se de que a minoria turcófona é discriminada em algumas regiões Gregas. Ou seja, estão a tentar aproveitar-se da instabilidade política e social na Grécia para tentar arranjar um pretexto. O único senão é que Erdogan, em termos externos, está mais isolado que nunca. Mesmo a Alemanha e os EUA anunciaram que vão retirar os seus mísseis Patriot de território Turco.
Cumprimentos e saudações ao povo Curdo
Hélder Silva
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