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O Livre elogia Passos Coelho, importa-se de repetir?

No primeiro debate entre os candidatos pelo distrito do Porto, a maior surpresa veio do representante do Livre. Ricardo Sá Fernandes não hesitou em afirmar que "é preciso reconhecer algumas coisas a este governo".

No último dia 4, a TVI 24 realizou o primeiro debate entre os candidatos pelo distrito do Porto. O vídeo está disponível aqui (a partir do minuto 34) para quem o quiser ver. Pela direita, o protagonista não podia ser mais revelador do regime de interesses que se instalou na democracia portuguesa. Aguiar-Branco, o cabeça-de-lista do PSD-CDS pela região, defendeu a entrega do Metro do Porto e da STCP aos privados, logo ele, que trouxe para o seu ministério Paulo Braga Lino, o diretor financeiro do Metro do Porto diretamente responsável pelos swaps ruinosos para este serviço público, justamente ele, o dono do escritório de advogados que até hoje ganha milhares de euros na assessoria dessa mesma empresa. Mas o debate teve ainda, a meu ver, três inusitadas surpresas.

A primeira foi uma ausência. Alguém acreditaria que depois de toda a celeuma em torno dos debates, o PS não estaria presente? Pois assim foi, a cadeira ficou vazia. A falta de comparência, mais do que a confirmação do descontrolo que grassa na direção de António Costa, não é bom sinal para o que resta da campanha e do embate de ideias.

A segunda surpresa foi ver que um debate com os principais candidatos pelo distrito do Porto foi gravado... em Lisboa. O cenário do estúdio, numa referência subliminar, era mesmo o Terreiro do Paço. Em plena campanha eleitoral, tempo de assentar raízes no terreno, o único candidato a fazer o debate desde os estúdios do Porto foi o José Soeiro. Pontos para ele.

Por fim, a maior surpresa veio do representante do Livre. Ricardo Sá Fernandes, o segundo candidato mais votado nas primárias do partido pelo distrito e agora promovido a cabeça-de-lista, questionado sobre a realidade dos últimos quatro anos de austeridade, não hesitou em afirmar (minuto 56 da entrevista) que "é preciso reconhecer algumas coisas a este governo". Segundo Sá Fernandes são três "os pontos que marcam a favor do governo" liderado por Passos Coelho: a melhoria substancial do défice externo; a diminuição do défice orçamental; a capacidade de endividamento que voltou a existir. E vale a pena tentar entender estes argumentos.

A esquerda precisa mesmo fazer vénia ao principal mito urbano da direita, o da salvação da bancarrota? Se Portugal reconquistou a sua capacidade de endividamento, por que nos fala José Castro Caldas, e bem, do "elefante" que é a dívida e da necessidade da sua reestruturação? Ficamos sem saber. É possível falar num "ponto positivo" no que se refere à redução do défice externo sabendo que foi feito com base na violentíssima compressão do investimento e no garrote do consumo? E o mesmo não se aplica à receita aplicada para a diminuição do défice do Estado que não se chama outra coisa que austeridade?

Os ativistas do Livre, que durante quatro anos se bateram contra este governo, não mereciam esta estreia.

Sobre o/a autor(a)

Sociólogo, dirigente do Bloco de Esquerda e ativista contra a precariedade.
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