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“Queremos viver aqui com dignidade!”
Bloco e PCP nunca faltaram quando era preciso e nunca desistiram
No início do debate entre Jerónimo de Sousa e Catarina Martins, realizado nesta terça-feira na RTP Informação, o secretário-geral do PCP começou por afirmar: “Se os problemas do país fossem as diferenças e as divergências existentes entre nós estaria o país bem”.
“É relevante que a situação do país não desapareça neste debate”, salientou ainda Jerónimo Martins.
Catarina Martins apontou que “Bloco e PCP são projetos políticos com diferenças que as pessoas conhecem”, destacou que “temos formas de agir, enquanto partidos diferentes”, sublinhando que “no combate contra a austeridade temos tido posições convergentes”.
A deputada bloquista disse que “o Bloco é em muito devedor da luta e do combate do PCP ao longo do tempo”, considerou que “tem havido diferenças entre os dois que se vão esbatendo”, exemplificando com a questão da adoção por casais do mesmo sexo, e apontou:
“Para mim o mais importante é saber que esta tarde no Porto estiveram mais de mil pessoas a fazer um cordão humano contra a privatização dos STCP. O Bloco de Esquerda esteve lá e o PCP esteve lá. E estivemos lá com a convicção que, mais importante do que tudo isso e sem nenhum sectarismo, o que é mesmo relevante para as pessoas é lutarmos para defender o país e lutarmos contra a austeridade”.
Catarina Martins destacou ainda a importância de Bloco e PCP terem ido “juntos” ao Tribunal Constitucional “reclamar contra os cortes do orçamento do Estado” e sublinhou: “Ainda bem que o fizemos juntos. As pessoas que este verão tiveram subsídio de férias ou os reformados que não tiveram o corte na CES sabem que Bloco de Esquerda e PCP nunca faltaram quando era preciso, nunca desistiram e nunca deixaram de unir esforços”.
Nas questões de fundo programa do PS não se distingue da direita
Na questão colocada por Vítor Gonçalves sobre se Bloco e PCP querem ser partidos de protesto ou serem governo, a porta-voz do Bloco disse que “querer ou não querer ser governo é uma falsa questão”, referindo que o “Bloco está disponível para governar com os votos que tiver” e salientando que “nunca houve condições para haver um governo de esquerda”.
“Num governo contra a austeridade o Bloco nunca faltará. E não tenho dúvida de que o PCP faz parte desse campo importante contra a austeridade e é uma força importante nesse campo”, salientou Catarina Martins.
Sobre o programa do PS, a porta-voz do Bloco apontou que um governo de esquerda teria de ter duas prioridades “travar a saída de recursos” e “distribuir a riqueza” e questionou o que o programa do PS diz sobre essas duas questões prioritárias e essenciais.
Sobre “travar a saída de recursos” do país, “pela dívida pública e por via das privatizações”, Catarina Martins criticou o programa do PS: “Reestruturação da dívida não se pode falar, tem medo de bater à porta em Bruxelas e levar com a porta na cara e privatizações tem um regulamento para a boa privatização. Ora depois de estar tudo privatizado qual é o regulamento que o PS precisa para privatizar? Na questão de fundo do nosso país estar a ficar sem recursos, [o PS] não se distingue da direita”.
Sobre a distribuição da riqueza, tendo em conta que a direita “atacou os direitos do trabalho, atacou os salários”, e que “é preciso criar emprego”, “o PS diz é que é preciso despedimentos por consenso” afirmou Catarina Martins, comentando ironicamente “estamos mesmo a ver o Soares dos Santos ou o Belmiro de Azevedo a negociarem por consenso o despedimento da caixa do supermercado”.
“E a outra é baixar a TSU de quem trabalha hoje, o que tem dois efeitos: por um lado, baixa as receitas da segurança social que pagam as pensões hoje e, por outro lado, baixa as pensões no futuro. Ou seja, está sempre a baixar os rendimentos do trabalho”, criticou a dirigente bloquista.
“Eu não acho que PS seja igual a PSD ou CDS”, afirmou também Catarina Martins, apontando que “não é, pelas pessoas por quem é feito e não é por uma série de valores que são seus historicamente” e lembrando que “o Bloco tem trabalhado com pessoas do PS, até destacados militantes do PS, em propostas que são essenciais para o país sobre Estado Social, reestruturação da dívida...”
“Enquanto partido que está na AR ou é governo, o PS sistematicamente ignora os contributos dos próprios socialistas que tem no partido e tem um alinhamento completo com PSD e CDS no que é essencial. E aí não é uma má vontade nossa”, sublinhou Catarina Martins.
“Ao lado da direita votaram o tratado orçamental que institucionaliza a austeridade na Europa. Ao lado da direita fazem parte de quase um partido único europeu que tem estado a impor a austeridade aos países europeus todos e tem estado a impor um garrote infernal aos países da periferia do euro. E essas não são escolhas que o PCP ou o Bloco de Esquerda tenham feito. Não foi por falta de parceiro, foi porque o PS assim escolheu”, criticou a porta-voz do Bloco.
“O governo tem mascarado emprego com abuso”
Sobre os números do desemprego, a porta-voz do Bloco lembrou que foram destruídos 400 mil postos de trabalho e, referindo que “há mais 160 mil pessoas que não têm emprego, mas que estão ocupadas”, acusou: “O governo tem mascarado emprego com abuso”.
Dirigindo-se ao jornalista Vítor Gonçalves, Catarina Martins exemplificou e questionou:
“Imagine que é um pedreiro da construção civil com 20 anos de trabalho, que está desempregado, que é um desempregado de longa duração. E que agora o IEFP o chama para fazer um curso de formação de pedreiro, que por sinal é fazer umas obras no centro de formação que precisa de obras. Quando estava empregado ganhava um salário, por fazer isso. Descontava, tinha direitos. Agora o centro de formação manda-o ir fazer e não lhe paga salário. Acha que a sua vida melhorou? Ou que está a ser abusado?”
“As pessoas estão a ser mais abusadas e quem está a trabalhar mesmo com emprego está pior. O salário médio em Portugal desceu 300 euros por mês, ao mesmo tempo que o número de horas que as pessoas trabalham por dia aumentou 200 horas por ano. Ou seja, temos menos emprego, o emprego é mais mal pago e temos pessoas a trabalhar horas a mais, enquanto há tanta gente a precisar de trabalho e não tem direito a ele”, realçou Catarina Martins.
Aprendemos muito com o que aconteceu com a Grécia
Sobre o euro, a porta-voz do Bloco afirmou que “o euro é uma máquina de austeridade”, considerando que “a arquitetura do euro, a forma como funciona o BCE, todo o desenho da moeda única assenta numa assimetria que leva a uma concentração de recursos na Alemanha, no centro da Europa e que vai asfixiando as periferias, nomeadamente Portugal”.
“Neste momento, na Europa, quem não tiver capacidade para ter uma alternativa que pode passar, eventualmente, pelo rompimento com a união monetária, bem pode acabar no Conselho Europeu a ficar com o plano que o ministro das Finanças alemão tiver feito para o seu país”
“Desde 2012 que temos vindo a dizer que, se a união monetária não muda, Portugal tem de estar preparado para um rompimento com a união monetária para poder existir enquanto país”, afirmou Catarina Martins, sublinhando que “ao contrário da direita nós achamos que o país é viável” e acusando a direita de considerar que o país “terá de ser uma colónia financeira da Alemanha”.
“Neste momento, na Europa, quem não tiver capacidade para ter uma alternativa que pode passar, eventualmente, pelo rompimento com a união monetária, bem pode acabar no Conselho Europeu a ficar com o plano que o ministro das Finanças alemão tiver feito para o seu país”, destacou a porta-voz do Bloco.
“Achamos que o nosso país pode pensar que pode tomar todas as opções soberanas essenciais”, afirmou ainda Catarina Martins, acusando a direita e os socialistas europeus de estarem a destruir o euro, devido à políticas que têm imposto na União Europeia, “que têm vindo a retirar possibilidades às economias dos países e portanto transformam o euro num beco sem saída”.
Justiça precisa de meios. É preciso mais combate ao crime económico e à corrupção
Sobre a justiça, Catarina Martins lembrou a “reforma do mapa judiciário que retirou tantos tribunais a tantas populações”, o “caos do Citius”, “os processos estarem a levar mais meses do que levavam”, o “brutal aumento de custas judiciais que retirou o acesso à justiça a tantas pessoas” e salientou que “a justiça continua a ter problemas graves”, que “há menos pessoas a trabalhar nos tribunais”.
“Há oito anos e meio que o BPN está em julgamento e ainda não acabou. O processo dos submarinos e da Ferrostal teve acusações na Alemanha e aqui não se conseguiu chegar a lado nenhum. Temos um recurso excessivo a prisão preventiva. Temos presos nas nossas cadeias em circunstâncias que são desumanas e que atentam contra os direitos humanos. Com certeza que a justiça em Portugal precisa de mais meios. E precisa de ser pensada de uma forma séria. É preciso mais combate ao crime económico e à corrupção. É preciso respeitar as pessoas que trabalham na justiça. Não têm o estatuto correspondente ao facto de serem um órgão de soberania”, apontou Catarina Martins.
No minuto final, a porta-voz do Bloco lembrou o “meio milhão de pessoas saiu do país, na sua maioria jovens em idade ativa” e as pessoas que não têm votado, “só uma em cada duas pessoas votou nas últimas eleições”, lembrou também “todos aqueles pais e avós que trabalharam tanto para que os seus filhos e netos tivessem uma vida melhor” e apelou: “Que não desistam de ir votar. Que saibam que pode ser diferente. Não estamos condenados sempre ao mesmo. O Bloco assume o compromisso de que queremos viver aqui e viver aqui com dignidade”.
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