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O pretexto da silly season
A polémica com os debates televisivos, ou melhor, a polémica originada pela recusa de Passos Coelho em participar nos debates alargados sem a presença de Paulo Portas, pode bem ser o último estertor da silly season, mas diz-nos bastante sobre a estratégia da coligação. Todos os estratagemas e argumentos servem desde que criem "ruído" e sirvam de cortina de fundo para que nada de substantivo se discuta.
PSD e CDS vão a votos com um programa onde as medidas que assinaram em Bruxelas, como o corte das pensões, não vem no programa e metade do que vem no programa não é para aplicar. É esta estratégia comunicacional, assente no recurso massivo a empresas de comunicação que inundam as redes sociais e sites noticiosos de "ruído" ou campanhas negativas sobre tudo o que diz a Oposição, que permite à Direita apresentar um programa sem uma única conta para amostra e não ser confrontada por nenhum jornalista sobre essa ausência. Há sempre uma frase bombástica de Paulo Portas ou uma polémica infantil para comentar.
E é assim, alegres e contentes, que vamos assistindo a todo o tipo de mistificações e invenções que marcam o eixo da campanha da coligação. Sim, a polémica dos debates parece uma polémica estéril, mas o que ela esconde é a fuga da coligação ao debate e em ser confrontada com o estado real do país. Uma pista, não é o dos cartazes sorridentes que PSD e CDS espalharam pelo país. Um exemplo, apenas, do que esta campanha à americana está a esconder. A autoridade da concorrência europeia disse que não tinha nada a dizer sobre a venda da TAP porque a empresa é pequena demais para afetar o mercado aéreo europeu. Por que é que esta declaração é importante? Porque o Governo sempre disse que tinha que privatizar a companhia, dadas as regras da concorrência europeia proibirem a injeção de capitais públicos (que não têm lugar há 20 anos, diga-se). Tudo falso, como se vê pela nota da autoridade europeia da concorrência. Mas para que se saiba é preciso discutir
Quanto aos debates, não há nada de polémico. Já existiram várias coligações, o que nunca existiu foi candidaturas a fazerem-se representar por duas pessoas num debate. Basta lembrar as últimas eleições europeias, onde Paulo Rangel fez a vez da coligação e onde não se viu ninguém exigir ou queixar da ausência de Nuno Melo. A exigência de ter Paulo Portas nos debates não passa de um pretexto para não existirem debates, e mais um capítulo na novela que é preciso ser alimentada para que nada se discuta. Asfixia democrática. Acho que foi esta a expressão que Paulo Rangel cunhou para situações como esta.
Artigo publicado no “Jornal de Notícias” em 25 de agosto de 2015
Comments
MM
MM
Os meus posicionamentos não se remetem para dialécticas Esquerda V. Direita, ou Governo / Poder V. Oposição, terrenos que algumas áreas político-partidárias tornaram quase impossíveis de trilhar com algum rigor. Por opção convicta sou Monárquico (ou se é, ou se é em alternativa Republicano, e Social-Democrata (ou se é, ou se é em alternativa qualquer).
De qualquer modo, tirando estes ou quaisquer outros rótulos, concordo com quase todo o texto. Tenho sobretudo quanto à TAP um posicionamento um pouco diferente. A seu tempo.
Quanto à questão dos tempos de antena, não me seduz uma grande reflexão. É que ela é desde logo minada por o que para mim é uma simples questão de garotos. Não tem qualquer razoabilidade a posição da Coligação PàF. Não conseguem perceber o que é muito óbvio. Apenas reagem como uns miúdos a fazer uma birra, que berram e batem com o pé no chão, enquanto não lhes dão o que pensam ser o seu (i)legítimo direito. Quando não vingam-se. Por exemplo recusando-se participar num qualquer debate.
Cumprimentos,
PF
...não é nenhuma birra
...não é nenhuma birra infantil, o que lhes daria alguma "inocência", é todo um plano de escamoteamento das intenções, pouco eleitorais, do que pretendem levar a cabo...
...é a negra verdade escondida na ausência, tornada mentira pela teoria do "caladinhos que nem ratos", que o que os ouvidos não ouvem as urnas não sentem...
Claro que é uma cobardia, mas o que foram estes últimos 4 anos senão um cobarde ataque pelas costas aos direitos dos mais indefesos dentre nós?
Olá MP
Olá MP
C/c MM
Eu entendo que é uma birra parva, mas sem que lhes conceda qualquer tipo de inocência. Até porque com a idade que têm, já não têm direito à mesma. E é isso que torna a postura ainda mais grave. Tão grave como a questão de nas eleições anteriores terem prometido uma coisa, quando na prática fizeram o seu contrário, na verdade um enorme e cobarde ataque às pessoas deste país, com excepção dos ricos e dos muito ricos. Cada vez mais e mais ricos. Todos os outros cada vez mais pobres, e com maior desigualdade social. O que mais poderia ser? Inenarrável.
Cumprimentos,
PF
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