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As crianças devem ficar felizes. E... nada mais

O Governo que já não consegue esconder a sua matriz conservadora e tenta mascarar a homofobia que o caracteriza com os direitos da criança.

Recentemente dois namorados, Pedro e Lorenzo, resolveram repetir em Portugal uma experiência social já realizada noutros países, nomeadamente, na Rússia e Ucrânia.

O objetivo era simples. Perceber a reação dos portugueses perante um casal do mesmo sexo a passear de mãos dadas na rua.

Os dois protagonistas não poderiam ter sido mais bem recebidos. Para além dos olhares surpreendidos ou curiosos não encontraram qualquer manifestação de repúdio, discriminação, insultos ou mesmo agressão física como ocorreu nos outros países. Pelo contrário, foram surpreendidos com algumas manifestações de incentivo e sorrisos daqueles que duas pessoas apaixonadas sempre suscitam nos outros.

Sinal inequívoco de que a sociedade portuguesa é indiscutivelmente mais empática, solidária, aberta e mais respeitadora da diferença do que o Governo português. Podemos dizer que a sociedade portuguesa vive no seu tempo enquanto que o governo continua preso no século XIX.

Se é certo que o casamento de pessoas do mesmo sexo foi uma conquista histórica que colocou Portugal na vanguarda dos direitos humanos, é igualmente verdade que se tratou de uma vitória amarga. A adoção de crianças continua vedada aos casais do mesmo sexo, como se a orientação sexual de cada um ou a relação amorosa de um casal determinasse a sua capacidade de amar, educar e cuidar de uma criança.

Os argumentos de um Governo que já não consegue esconder a sua matriz conservadora tentam mascarar a homofobia que o caracteriza com os direitos da criança. Evocam a necessidade da criança ter um pai e uma mãe, escamoteando o óbvio: 1) a adoção singular é uma realidade onde não se coloca a necessidade de pai e mãe simultaneamente. Aliás, do processo de avaliação da candidatura à adoção faz parte o estudo da rede de apoio dos/das candidatos/as que passa pela família alargada e amigos onde existem evidentemente inúmeras referências masculinas e femininas; 2) a existência, em Portugal e um pouco por todo o mundo de situações de facto em que crianças já estão inseridas em famílias homossexuais; 3) a evidência empírica de inúmeros estudos que demonstram que as crianças educadas por famílias homossexuais são em tudo iguais às crianças educadas em famílias heterosexuais e ainda que o ambiente institucional onde as crianças passam, muitas vezes, a maior parte da sua vida, é esse sim, nocivo ao desenvolvimento da criança, à construção da sua identidade e autoestima e prejudicial ao sucesso da sua integração na sociedade.

Por isso, a luta pela adoção homossexual é não só uma luta pelo direito de casais homossexuais a serem elegíveis como candidatos/as à adoção mas também uma luta pelo direito das crianças a terem uma família.

A contínua rejeição destas evidências demonstra que para a Direita, a salvaguarda dos seus próprios valores bafientos se sobrepõe à premência de justiça e igualdade entre cidadãos e cidadãs e ao supremo direito das crianças a serem felizes.

Certamente nunca terão perguntado a uma criança o que ela quer. Nós já. “Querem ser felizes. E nada mais.” São elas que o afirmam: veja o vídeo abaixo.

Sobre o/a autor(a)

Feminista e ativista. Socióloga.
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