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Educação artística nas escolas versus ignorância dos ministros

Falta inteligência aos governantes para perceberem que são áreas importantíssimas para o desenvolvimento do ser humano – não se trata de formar artistas, mas sim cidadãos mais informados a nível das linguagens estéticas, teatrais e expressivas.

A Educação Artística, dadas as suas potencialidades psicopedagógicas, estéticas e transversais aos vários estádios de desenvolvimento de cada ser humano, deveria ser uma área transversal aos vários ciclos de ensino. Porém, para além da falta de vontade política para que tal aconteça, parece que, cada vez mais, os governantes portugueses fazem questão de demonstrar que a sua formação pessoal é repleta de diplomas cujo conteúdo suspeita-se que seja a “santa ignorância”.

As disciplinas de Expressão Dramática e Teatro têm sido lecionadas, em parte, por professores com escassas ligações à área artística ou por artistas pouco preparados em termos pedagógicos. O problema está no Ministério da Educação; pois este sempre viu estas disciplinas como áreas marginais e teima em não conferir habilitação para a docência nas mesmas aos profissionais de educação e artistas que tenham investido em Mestrados de Educação Artística conforme o processo de Bolonha exige, especializando-se assim numa área carente de professores e artistas bem formados, tanto a nível pedagógico como a nível técnico.

Falta, pois, inteligência aos governantes para perceberem que são áreas importantíssimas para o desenvolvimento do ser humano – não se trata de formar artistas, mas sim cidadãos mais informados a nível das linguagens estéticas, teatrais e expressivas. Cidadãos com maiores aptidões comunicativas. Cidadãos despertos a nível social e com maior capacidade de análise critica. Talvez, seja este o principal motivo, que leva os sucessivos governos a marginalizarem as áreas artísticas nos vários graus de ensino: o medo de que os cidadãos se tornem mais críticos e menos robotizados nas várias áreas e locais onde passarão a exercer as suas profissões.

A Expressão Dramática e o Teatro, mas também a Expressão Plástica e Expressão Musical, fazendo ou não parte do currículo passam muitas vezes praticamente despercebidas durante o ano letivo, ficando dependentes da boa vontade e motivação dos professores do 1º ciclo do ensino básico ou da oferta de escola nas Atividades de Enriquecimento Curricular. No caso do 2º ciclo há uma espécie de hiato a nível da educação artística, sobrevivendo apenas a Educação Visual embora sob forte ataque com a redução da carga horária e respetivos professores. No secundário, após alguns anos em que a Expressão Dramática para jovens e o Teatro pareciam ter um destino feliz, assistimos acerca de uma década a um desinvestimento progressivo, verificando-se a quase inexistência destas áreas, excetuando-se nos cursos de vertente profissionalizante.

Os idiotas que nos (des)governam desconhecem ou querem ignorar o óbvio. Pois com este cenário todos saem prejudicados:

a) Os alunos, porque não têm acesso a estas áreas ou quando têm, as mesmas são dadas, muitas vezes, de forma superficial ou incorreta;

b) Os professores de áreas não artísticas e sem preparação específica, porque têm de se desdobrar em esforços para as lecionar;

c) Os artistas e professores de várias áreas, porque após concluírem os Mestrados em Educação Artística, veem recusado o acesso à habilitação para a docência por parte do Ministério da Educação e Ciência.

Quem ganha? A ignorância!

Sobre o/a autor(a)

Professor e Ator
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