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A política e os negócios de um vice-presidente do PPE

Mário David, ex-eurodeputado do PSD e vice-presidente do PPE, foi eleito na sexta-feira para vice-presidente da Internacional Democrata do Centro (IDC). Na Colômbia, questiona-se a sua responsabilidade em negócios falidos e o conflito de interesses entre política e negócios.
Mário David e Juan Manuel Santos, Presidente da Colômbia – Foto da Cancilleria.gov.co

Segundo o jornal “Expresso” deste sábado, Mário David foi eleito vice-presidente da IDC numa cimeira a decorrer no México. Para presidente da IDC foi escolhido Andres Pastrana, antigo Presidente da República da Colômbia.

Um artigo com o título “El hombre detrás de los negocios-fiasco de los portugueses en Colombia” (“O homem que está por detrás dos negócios-fiasco dos portugueses na Colômbia”), publicado num site colombiano, acusa Mário David de ter aproveitado o Tratado de Livre Comércio entre a UE e a Colômbia e o Peru para beneficiar “a sua família de sangue e também para a sua família política”.

Mário David é um destacado membro do PSD, que foi eurodeputado e assessor de Durão Barroso, sendo atualmente vice-presidente do PPE (Partido Popular Europeu).

Conflito de interesses

Segundo o referido artigo, Mário David foi o relator do Tratado de Livre Comércio entre a UE e a Colômbia e o Peru e sempre “minimizou” as muitas críticas que o acordo suscitou no Parlamento Europeu (PE), críticas devidas “principalmente às violações de direitos humanos na Colômbia, à destruição do ambiente e até à facilitação de lavagem de dinheiro e a evasão de impostos”.

Referindo o conflito de interesses entre o papel político de Mário David e os negócios em que tem estado envolvido, o texto assinala que as empresas com que o ex-eurodeputado teve vínculos “hoje operam na Colômbia até em projetos onde os grupos paramilitares se encarregaram de fazer o trabalho sujo, como no caso da ampliação do porto de Buenaventura”.

Negócios falidos na Colômbia

O texto referido assinala que o vice-presidente do PPE se serviu da sua “posição privilegiada” na política para fazer acordos para a entrada de empresas portuguesas na Colômbia.

“O seu próprio filho, o jovem Pedro Vargas David, foi contratado para instalar os grupos no mercado nacional. Mudou-se para a Colômbia para comprar terrenos como responsável pela Expansão Internacional da holding portuguesa Jerónimo Martins”, refere o texto, salientando que Vargas David foi nomeado CEO do grupo Prebuild na Colômbia.

O lançamento da Prebuild contou com a presença do ministro colombiano do Comércio, Indústria e Turismo, Sergio Díaz-Granados, e a empresa prometeu investir “250 milhões de dólares num parque industrial situado numa zona franca em Gachancipá e a criação de 1600 postos de trabalho”. Porém, “a Prebuild não honrou os contratos e o projeto acabou por afetar alguns dos grupos mais poderosos da Colômbia, o grupo Santo Domingo (fundo de investimentos Terranum) e muitos trabalhadores que estão há meses sem receber salários”.

Juan Manuel Santos condecorou Mário David com a Ordem de San Carlos no grau de Grã-Cruz

Para assinar o acordo da Prebuild da Colômbia com o governo, foi nomeada gerente geral da Prebuild Distribuiciones (Plenty) María Lourdes Holguín Cuellar, irmã da ministra dos Negócios Estrangeiros. Na tomada de posse anunciou o interesse da empresa em “em abrir 50 lojas em cidades como Cali, Medellín, Barranquilla, Pereira, Villavicencio e Bucaramanga”. Contudo, “apenas foi aberto um armazém Plenty em Bogotá que fechou deixando obrigações no montante de 1,2 milhões de dólares. Os fornecedores confiantes no grupo português e nas suas altas relações com o governo colombiano, estão hoje seriamente afetados pelos incumprimentos de pagamento”.

O texto denuncia também que a Prebuild “foi favorecida entre vários construtores a nível nacional, pelo ministério da habitação, com um projeto de 44.525 milhões de pesos, para a construção de 1.079 habitações sociais em Barracabermeja”. Germán Vargas Lleras, então ministro da Habitação e atual vice-presidente da Colômbia, lançou a primeira pedra deste projeto, mas “houve problemas jurídicos com a propriedade do terreno, houve problemas com os salários dos trabalhadores e houve problemas com a Ekko, a filial da Prebuild. O projeto de habitação não foi cumprido”.

O artigo refere ainda outra empresa, a Mota-Engil, da qual “a declaração de interesses financeiros do [então] eurodeputado Mário David de 2012, diz que é administrador”. A Mota-Engil ganhou vários concursos na Colômbia e alguns projetos controversos, entre os quais o da ampliação do porto de Buenaventura TCBUEN. “Este projeto foi criticado a nível nacional e internacional. As comunidades afro-colombianas que vivem há vários anos em palafitas no porto acusam os grupos paramilitares, hoje conhecidos como BACRIM, de instalar nos seus bairros barracas onde desmembram vivos os habitantes e incendeiam as suas casas para os forçarem a se deslocarem. Um horror que significou a morte de centenas de habitantes”, refere o artigo.

“Existem vários pontos comuns entre estas três empresas portuguesas [Jerónimo Martins, Prebuild e Mota-Engil] que desembarcaram ao mesmo tempo na Colômbia”, lê-se no texto assinalando a ligação da família David a todas, “os dirigentes que saltam de uma empresa para outra” e as ligações ao “grupo do Banco do Espírito Santo (BES)”.

Fundo de investimentos

“Quando o escândalo da Prebuild rebentou, Mário David já não estava no Parlamento Europeu e o seu filho já tinha saído da Colômbia”, refere o artigo, apontando que Mário e Pedro David fundaram o fundo de investimento Alpac Capital, “que investe precisamente na Colômbia e Peru para continuarem a beneficiar do TLC”.

Pedro Vargas David é o CEO do Alpac Capital e entre os sócios, “seguindo as tradições da família David de negócios e política”, estão o ex ministro do Comércio Externo e Turismo do Peru (2011-2013), Jose Luis Silva, o espanhol Felipe Oriol, membro do conselho da Associação Espanhola de Entidades de Capital de Risco (ASCRI) e da Fundação Empresa e Sociedades (FES), Gabriel Jaramillo, ex-CEO do Citibank Colômbia e México, Presidente do Banco Santander Colômbia, Brasil e EUA, e Richard Webb, que foi governador do Banco Central do Peru, presidente do Banco Latino e membro do Conselho da IBM para a América Latina.

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