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Clareza grega
Vivemos momentos decisivos na Europa, sem dúvida! Um país atreveu-se a dizer que não, a dizer basta aos poderes instalados em Bruxelas que seguem ordens da Alemanha e da banca. A coragem ganhou força, o medo foi despedaçado e a vontade de um povo fez-se ouvir, ruidosamente.
Mas além do enorme incentivo e esperança que para muitos e muitas este momento trouxe, é, também e acima de tudo, um momento de definição e muita clareza e importa perceber essa clareza em Portugal.
Pois bem, a direita está completamente desacreditada e perdida, não tem já argumentos que valham para a justificação da austeridade. E quando tentam arranjar esses argumentos, é pior a emenda que o soneto. Simplesmente porque esses argumentos se baseiam em mentiras. Dizer agora que o país está melhor, que o desemprego diminuiu, que não se cortaram pensões e salários... nem sequer tentam ser truques ou formas de mascarar algo. São puras mentiras.
E basta olhar para a realidade e vivê-la para saber que tudo isso são mentiras; o desemprego aumenta, bem como o trabalho precário; a emigração está em níveis assustadores, o salário real das pessoas não é suficiente, em cada vez mais casos, para as despesas mínimas de habitabilidade (quando o acesso a habitação existe).
E importa olhar para a realidade e ter propostas para a melhorar. E isso é algo que também o Partido Socialista não faz. Foram dos primeiros a assinar por baixo das medidas de austeridade e a permitir que tudo se pudesse fazer em prol de proteger os bancos e aumentar o lucro da agiotagem europeia.
E continuam a querer ignorar e mascarar a realidade que ajudaram a criar, optando por uma não posição. Algumas coisas melhoraram no país, outras pioraram... mas a receita da austeridade tem que se manter.
Mesmo que seja soft, não se podem levantar muitas ondas contra a Europa dizem eles. Sem uma única posição firme sobre o que realmente acham sobre o projeto europeu nem de que lado estão. Mas quem assina a austeridade, seja ela de que foram, não está do lado do povo, não quer participar num projeto de construção alternativa da economia e da vida com dignidade para as pessoas.
É, então, neste cenário que alguns se posicionam do lado do povo, do lado de quem quer dar luta. Mostramos solidariedade com o povo grego como não podia deixar de ser mas aquilo que devemos retirar de todo o caminho percorrido e do que ainda está para ser percorrido é a coragem e resiliência.
Independentemente dos resultados, devemos reter a força de vontade em fazer diferente, em lutar por propostas concretas alternativas de governação: reestruturar a dívida, devolver salários e pensões, ter mão forte contra os abusos na contratação laboral, taxar as grandes fortunas, controlo público de sectores estratégicos que foram sendo privatizados.
São propostas urgentes para a vida das pessoas e tê-las do nosso lado torna-se uma necessidade; é preciso também que elas tenham um amplo apoio popular e é esse trabalho difícil mas que já demonstrou poder ter frutos que temos que fazer e continuaremos a fazer durante os próximos meses.
Se a luta por alternativa já era feita com força, agora só poderá ser redobrada pela esperança que o exemplo grego nos deu a todos e todas. Esperança que vale sempre a pena lutar e que não podem ser sempre os mesmos a decidir e que mesmo a formiga quando se bate com coragem pode incomodar o elefante e, quem sabe vencê-lo!
Comments
"Independentemente dos
"Independentemente dos resultados, devemos reter a força de vontade em fazer diferente, em lutar por propostas concretas alternativas de governação" . Nunca pensei chegar a ver um dirigente político , no século XXI , a defender publicamente uma determinada linha de acção independentemente dos resultados. Temos que fazer isto , aconteça o que acontecer. Esta fica guardada.
Cara Isabel,
Cara Isabel,
Quando comecei a ler o seu artigo pensei que este seria datado do dia a seguir ao referendo na Grécia. Para meu espanto verifico que tem a data de 11 de Julho.
É verdade que o povo grego disse um claro não às politicas da troika (dos chacais do capitalismo em crise e não "dos nossos parceiros").
Mas nem uma semana foi necessária para assistir a Tsipras a transformar esse não em sim com o apoio da Nova Democracia do Pasok e do Potami.
Como muito bem diz -"Mas quem assina a austeridade, seja ela de que foram, não está do lado do povo, não quer participar num projeto de construção alternativa da economia e da vida com dignidade para as pessoas."
Mas essa sua afirmação, hoje, 11 de Julho, não a faz tirar nenhuma conclusão sobre o que a direcção do Syriza está a fazer?
Toda a politica do Syriza no governo tem sido equivocada -
1. Aliança com um pequeno partido da direita nacionalista que, evidentemente defende os interesses da casta militar
2. Eleição de um presidente da república vindo da direita.
3. Busca permanente de um ilusório "acordo honroso" com a troika (a quem chama instituições e parceiros) que se traduziu numa sequência de cedências pisando e ultrapassando todas e cada uma das linhas vermelhas que ele mesmo tinha traçado.
Esse tempo precioso de hesitação e cedência permanente resultou numa fuga de capitais enorme sem que o governo tomasse medidas decididas e radicais para a estancar.
Essas cedências permanentes só resultaram num crescendo de exigências dos chacais do capitalismo (a que o Syriza chama parceiros) e na humilhação e chantagem cada vez maior sobre o governo grego.
4. Quando se voltou para o povo e virou as costas à troika, o governo foi acusado, ameaçado e chantageado por todos os poderes do mundo. O resultado foi um estrondoso NÃO dado pelo povo grego que é o único parceiro e apoio que o governo tem realmente.
5. O que fez o Syriza com esse não preparou um plano de austeridade (é bom chamar os bois pelo nome) buscando a aprovação da Nova Democracia, do Potami e do Pasok (os partidos do sim).
Não sei o que se passará exactamente, mas, está claro que se o Syriza não vê nenhuma alternativa a esta União Europeia (capitalista!) à Eurozona (capitalista!) e à sua moeda, o seu destino será sempre ir cedendo a todas a exigências dos chacais e, inevitavelmente, desorientar, desiludir e finalmente confrontar-se com as massas populares que o suportam na expectativa que ele assuma o mandato que lhe deram nas eleições e no referendo.
A alternativa chama-se Socialismo, mas, para a trilhar é necessário estar disposto a romper com os chacais e tomar medidas socialistas.
"Um país atreveu-se a dizer
"Um país atreveu-se a dizer que não, a dizer basta aos poderes instalados"... "devemos reter a força de vontade em fazer diferente". Em tempo de campanha eleitoral.
Estamos a ver que afinal esse "não" e "fazer diferente" estão a ser exatamente iguais ao que passou com Portugal, por exemplo. Cada vez me convenço mais que o que interessa é chegar ao poder, só ainda não percebi o porquê? Do lado de fora da governação é tudo muito lindo, tudo muito fácil e sem austeridade, chegados ao poder...
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