Ana Luísa Amaral

Ana Luísa Amaral

Poeta. Professora universitária na Faculdade de Letras do Porto

O que pode um povo fazer quando assiste ao saque do seu país?

Numa Europa suspensa das decisões da banca e das indústrias financeiras assistimos à vitória da enunciação de uma palavra que a maior parte de nós não conhecia. Essa palavra é “oxi”: NÃO.

“Espelho meu, espelho meu, haverá banco de espírito mais santo do que o meu?” Isto perguntava o rei, enquanto se mirava e remirava em frente do seu espelho luzidio, agora rasgado ao meio... Por Ana Luísa Amaral

Queria encontrar uma palavra que pudesse resumir o meu povo aviltado, escorraçado, em nome de lucros fáceis, de escravidões a interesses pardos.

A retórica de Passos Coelho pretende virar portugueses contra portugueses, dividir para reinar, fazer crer que a função pública é composta por uma gente preguiçosa e privilegiada. 

O nosso mundo e o vosso mundo, senhores, parece ser visto de diferentes janelas. A vossa dá para sacadas com funcionários de cifrões na mente, o nosso, para espaços que roçam a desolação.

Eram precisas uniões, ainda que estratégicas, para exigir a mudança. Dizer “não!”, repeti-lo muitas vezes, insistir a indignação, tornar o “não” em som cada vez mais aberto, alongar-lhe o sentido, denunciar estas vergonhas e estas brutalidades.

Publicamos no esquerda.net, na nova secção “cultura” um inédito de Ana Luísa Amaral. “Um poema que escrevi sobre este triste estado de coisas - sobretudo a Grécia”, segundo as palavras da autora.

Simone de BeauvoirEm 1976, numa entrevista, Simone de Beauvoir dizia que as mudanças pelas quais lutara não se realizariam durante a sua vida. "Talvez daqui a quatro gerações", acrescentava. Para esta jovem teoria, a lição de Beauvoir coloca-se também num "devir", esse devenir de que, há quase 60 anos, ela falava. Jovem, outra vez, neste ano que celebra o centenário do seu nascimento.
Artigo de Ana Luísa Amaral