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Do apeadeiro à ilegalidade

Um voo que deveria sair de Ponta Delgada às 9h25, com destino a Lisboa, acabou por só se realizar no dia seguinte, pelas 8h00. O motivo foi o facto do técnico responsável pela ‘assinatura’ que autorizaria o avião a levantar voo... não estar, nem em S. Miguel, nem em nenhuma das ilhas dos Açores!

Ora vamos lá trocar algumas impressões sobre a tão desejada e idolatrada concorrência, a tal que, só por si, é capaz de diminuir preços aos consumidores, aumentar a qualidade da oferta e proporcionar níveis de comodidade nunca antes vistas...

É sabido que os aviões avariam. Razões diversas – umas mais graves, outras menos – podem fazer com que os ‘pássaros’ das nossas autoestradas se vejam obrigados a permanecer, por tempo indeterminado, em terra. É sabido que este tipo de situações provocam (quase sempre) transtornos de monta a quem se vê, subitamente, impossibilitado/a de fazer a viagem programada e à qual se seguiria um conjunto de compromissos, nem sempre fáceis de recalendarizar. E é sabido que estas avarias não se anunciam, pelo que, de forma inesperada e a desoras, podem acontecer.

Sendo assim, algumas coisas estão a funcionar mal, no serviço que a EasyJet nos está a prestar. A semana passada, um voo que deveria sair de Ponta Delgada às 9h25, com destino a Lisboa, acabou por só se realizar no dia seguinte, pelas 8h00. Pondo de lado alguns episódios incompreensíveis e até caricatos (para uma companhia com tão larga experiência), reconhecendo a simpatia dos/as funcionários easyjetianos/as, não é possível desvalorizar a razão objetiva que obrigou 160 passageiros a permanecerem 6 horas seguidas, no aeroporto, tendo, depois, que ir embora e regressar, no dia seguinte, de manhãzinha.

A razão do adiamento, por vinte e quatro horas, deste voo específico, não foi o ‘choque’ ocorrido, entre o nariz do avião e uma ave. Não foi a impossibilidade de corrigir os estragos feitos. Não. Isso foi feito em pouco mais de duas horas. O motivo pelo qual o avião (e os/as passageiros/as) tiveram de esperar para o dia seguinte – e de acordo com as informações que nos foram prestando - foi o facto do técnico superior, responsável pela ‘assinatura’ que autorizaria o avião a levantar voo... não estar, nem em S. Miguel, nem em nenhuma das ilhas dos Açores e, alegadamente, nem sequer no continente! Por isso, foi preciso dar-lhe tempo para chegar a Ponta Delgada.

Partindo do princípio de que os Açores não são um apeadeiro de 2ª (e não são!), é absolutamente inaceitável esta situação, a qual tem de ser corrigida com a máxima urgência.

Mas para que ninguém se fique a rir sozinho, temos outra ‘anedota’ para contar, desta vez com a Ryanair e esta bem mais grave do que a anterior.

Alguém compra, nesta companhia, um bilhete Lx-PDL-Lx, via net, pagando-o com cartão de crédito. Obviamente, mais tarde desloca-se ao Terminal 2, pedindo a respetiva factura, afim de ser ressarcido pela entidade patronal do bilhete pago por si. Resposta: ‘Aqui, não passamos faturas. Tome lá um papelinho com o número de telefone da sede da companhia, na Irlanda. Ligue, peça lá a fatura e não se esqueça de falar em inglês’!

No meu vocabulário esta situação tem um nome muito feio: chama-se fuga ao fisco, descarada, consentida e abençoada! No mesmo país onde é obrigatório passar fatura de um simples café, sob pena de ser multado!

Assim, caros/ leitores/as, é muito fácil fazer concorrência, seja a quem for e sair, largamente, a ganhar. Até eu, que não percebo nada de negócios, era bem capaz de ter sucesso! Se isto é a marca do ‘espírito empreendedor’ de que tanto se fala... estamos bem tramados/as!

Sobre o/a autor(a)

Dirigente do Bloco de Esquerda. Deputada à Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores, entre 2008 e 2018.
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